tag:blogger.com,1999:blog-79219023835665556882023-12-19T08:16:24.865-03:00Catártica MenteBlog da escritora Giselle JacquesGiselle Jacqueshttp://www.blogger.com/profile/01802271450116822930noreply@blogger.comBlogger266125tag:blogger.com,1999:blog-7921902383566555688.post-88380451743435327002023-03-22T11:21:00.001-03:002023-03-22T11:21:11.617-03:00A Troca Justa<p>Sou difícil de matar. Me derrubar é mais fácil e já
aconteceu mais vezes do que gostaria de contar. Já fui alvo de pedradas,
rasteiras, traições e atentados de todos os tipos. Todavia, minha resiliência é
chata e teimosa. Não sei desistir, apesar de opiniões em contrário. Já me
rotularam covarde, indecisa, sem ambição. Mas, nunca me chamaram injusta.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Das pancadas e emboscadas que suportei, as mais dolorosas
foram as das pessoas próximas, aquelas com quem eu me importava de verdade.
Confesso que, a cada descoberta, um tanto de raiva me abalava. Contudo, o
sentimento que imperada era tristeza, decepção. Sim eu ficava mais triste do
que furiosa. Saiba, você que me magoou, que doeu bastante. E doeu mais porque
sei que só dois caminhos existem depois da traição.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Ou o afastamento completo – o que me faria sofrer a ausência
de certas pessoas –, ou o confronto – que nunca foi objetivo aqui. Não quero
sumir nem brigar. Não mando olho gordo de volta, não compartilho intriga nem
boto laxante em sanduiche de ninguém. A vingança é boba, não resolve nada nem
livra o coração do desapontamento.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Foi pensando nisso que resolvi apelar para a mais justa das
trocas. Aquela que passa como um furacão e não deixa nada para trás. Resolvi
abrir mão do rancor, deixar para lá, na certeza de que não vai acontecer de
novo, sob pena, aí sim, do tal afastamento que não quero. Não significa que eu
não me defenda. Já disse, não morro fácil. Por favor, pare de tentar.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Assim, nesse momento que
dizer que tiro de mim do fardo que me foi imposto, entrego e devolvo todo e
qualquer sentimento, resquício e sequela que me incomoda. Eu me liberto agora
de tudo o que me foi lançado e dos traumas que isso gerou. E, para você que fez
isso, saiba que eu também te liberto de toda carga. Viva sua vida e não a
minha. Você não me deve nada, eu não te devo nada. Zeramos tudo, agora e para
sempre. A troca está feita. O abismo foi cimentado!</p>Giselle Jacqueshttp://www.blogger.com/profile/01802271450116822930noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7921902383566555688.post-29300373696563615882022-05-12T09:10:00.002-03:002022-05-12T09:10:33.461-03:00Serviu como uma Luva<p style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; color: #262626; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><b>Você se encaixa? </b>O conceito da “luva” remete a algo que se molda, que serve, que envolve perfeitamente. Pelo menos, a luva do dito popular, pois que fala de um artigo tão pessoal que era feito sob medida para os “mais nobres”. Em contrapartida, os “menos merecedores” nem as usavam – as luvas –, que dirá tê-las personalizadas. 👌</span></p><span style="background-color: white; color: #262626; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: justify;">Na busca por adequação, por similaridade com o burguês, o plebeu passou a vestir luvas. Estas, todavia, produzidas em série, para “todas as mãos”. Umas apertavam a palma, outras tinham um dedo mais longo, um punho frouxo ou curto. Não importava. O plebeu iria se adaptar e tentar, ele próprio, se adequar ao artefato de qualquer maneira. Seria mais feliz nesse encaixe. 🤘</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="color: #262626; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><br /></span></div><span style="background-color: white; color: #262626; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: justify;">Agora, troque a “luva” pela “vida” e responda a pergunta. Você se encaixa? A vida que você leva foi feita sob medida para você? Ou – assim como eu – você tem que se oprimir para que sirva? Talvez, alguns dedos se ajustem impecáveis. Outros, porém, espremem, sobram, pinicam. Vai saber, a luva é de quem usa. Se coça ou machuca, tanto faz. O que conta é “estar na luva”, ostentá-la. ✌</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="color: #262626; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><br /></span></div><span style="background-color: white; color: #262626; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: justify;">A grande questão é: esse esforço de equidade vale a pena? 🖖</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; color: #262626; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; color: #262626; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Vai lá, segue no insta: </span><span style="color: #262626; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, Segoe UI, Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 14px;"><a href="https://www.instagram.com/gisellejacques/" target="_blank">@gisellejacques</a></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: #262626; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, Segoe UI, Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgF8R9CwG2IGKNKk-xbSRS7RjIndeqSQ1I1jQCy2fYEimi0mkG6yubIEHV5OTCjGuOFLrzWWFoZToAbop-K3ZZRy7V3xaOj65A4PnYpe794kOoPUk0L45fQcDDUduiYD-0C8FBzAejI9pKPTAA8-9ggHBaWeRcv9awkMtcp8LPaMmRke9QbKL8liRrHUw/s1006/WhatsApp%20Image%202022-05-11%20at%2019.15.39.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1006" data-original-width="1006" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgF8R9CwG2IGKNKk-xbSRS7RjIndeqSQ1I1jQCy2fYEimi0mkG6yubIEHV5OTCjGuOFLrzWWFoZToAbop-K3ZZRy7V3xaOj65A4PnYpe794kOoPUk0L45fQcDDUduiYD-0C8FBzAejI9pKPTAA8-9ggHBaWeRcv9awkMtcp8LPaMmRke9QbKL8liRrHUw/s320/WhatsApp%20Image%202022-05-11%20at%2019.15.39.jpeg" width="320" /></a></div><br /><span style="color: #262626; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, Segoe UI, Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif;"><br /></span></div>Giselle Jacqueshttp://www.blogger.com/profile/01802271450116822930noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7921902383566555688.post-83219299072867996662022-02-21T11:08:00.002-03:002022-02-21T11:08:37.985-03:00Minha morte<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Não sou suicida. Nunca penso em
me matar. Mas, talvez, devesse. Acabar com tudo. Uma morte prevista e
controlada. Meu estado de espírito é, por vezes, um território inóspito e
árido, com suas pedras despencando de encostas muito íngremes e se despedaçando
no chão poeirento. Sempre – quase sempre – solitário e sem vida. Todavia, nesse
terreno arenoso e silente, há um pôr-do-sol alaranjado constante. Não, não é
noite, é crepúsculo. E é sentada a admirar o poente purpúreo que esqueço de
morrer.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Algo em mim insiste em tentar
viver por mais um dia. Algo me empurra adiante, ciente da força de minhas
pernas e do avançar como um comando interno, eterno. Meus passos pesam, mas
estou acostumada. Tenho força o suficiente para andar por mim mesma. Embora perceba
que de nada adianta tamanho vigor de vez em quando. Persistindo em alavancar um
pé na frente do outro de novo e de novo, joelhos firmes, olhos no horizonte, me
pego pensando “Para quê? Onde estou indo?”.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Minha sombra é a única companhia
e, juro, ela desdenha silenciosa, arrastada atrás de mim como o fardo pesado de
dias sem sentido algum. Anos, décadas... envelheço. Entretanto, sigo andando a
passos firmes e lentos. Onde estou indo? Não há estrada nem trilha à frente.
Nenhuma placa para indicar o destino. Não existe fim do caminho. Sequer há um
caminho. Percebo que avanço, apenas. Empenho e cansaço. Cada vez mais cansaço.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">É em momentos assim que paro e me
acomodo pensando em, quiçá, pensar na morte. A dor é tanta e o vazio tão
avassalador que é difícil concentrar minha mente nessa rota fácil de fuga, de
fim. Olho em volta. São as mesmas rochas e ravinas, a mesma paisagem. Cada
pedrinha idêntica a tantas que já pisei. Muito esforço, nenhum progresso. O
ocaso ambarino me distrai – como sempre – do desejo sombrio de encerrar a
caminhada. Lembro que deveria mesmo considerar morrer. Seria bom descansar.
Ainda assim, é um céu tão bonito...<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Sei que deve haver uma passagem,
com suas placas e luzes, uma meta de chegada, um destino a alcançar. Por lá, os
objetivos e sonhos que esqueci de pôr na bagagem, todos a esperar que eu
encontre a saída desse deserto. Porém, não enxergo desvio algum. O véu tortuoso
do cansaço cobre e embota meus sentidos de direção, minha vontade de sair desse
lugar. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Confesso que, em repentes de
alegria – são como espasmos involuntários –, chego a guinar e antevejo os
faróis distantes, quase ali. Corro até, mas o peso das âncoras que me acorrentam
me freia antes que alcance as luzes. E me saboto. Caio, invariavelmente, no mesmo
ponto do deserto, admirando o entardecer vazio de minha própria existência sem
rumo. E outra vez me questiono “Onde estou indo? Para que estou aqui?”.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Vivo e revivo esse ciclo vicioso
egoísta hora após hora, década após década. Quero sair. Contudo, a energia se
esvai a cada passo da jornada aleatória. Um dia, tudo isso acabará, quando os
joelhos finalmente vergarem e o instinto de caminhar não mais domar meus pés.
Queria que parasse antes, que parasse agora. Mas, como eu disse, não sou
suicida. A ideia da morte só me faz pensar em um renascer que não creio
possível, só outra distração. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Lembro que respiro. Tenho
consciência da vida sem vida que me habita. Preciso de ajuda e não há ninguém
aqui. A sombra suspira, entediada. Hora de ir. Mais uma pedra a rolar, mais um
devaneio a desviar minha atenção do ponto. O conforto da morte esquecido outra
vez. Preciso tornar a caminhar. O crepúsculo me espera.<o:p></o:p></p>Giselle Jacqueshttp://www.blogger.com/profile/01802271450116822930noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7921902383566555688.post-52779208947435804192021-01-20T19:26:00.002-03:002021-01-20T19:28:32.054-03:00Balsâmico<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">E ele era um deus... Eu não sei se grego, romano, sumério...
não faz a menor diferença. O caso é que aquele homem era uma divindade! Lindo!
Perfeito! Não, isso é pouco. Ele era o desfalecer de corações, o expiar de
constâncias. Era algo indescritível. E, sim, existia, eu não o inventei!</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">A perfeição em forma humana. Alto, muito alto! Moreno, a
pele de neve, com gosto e cheiro de leite (eu imagino)! Os olhos de um verde
balsâmico, absurdo! O que mais dizer da evidente magnitude dessa forma cósmica
transmutada em homem...? Lindo! Só isso!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Sim, eu sei quem é. Sim, eu sei o nome dele. E eu sei que é
melhor nem chegar perto. Por quê? Porque essa criatura divina é mais do que
qualquer mortal poderia pensar em dominar! Fabuloso, grande e aquele sorriso...
Um sorrir que ilumina o mundo, que tem sabor de primavera.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Não sei se vi (ao vivo) beleza tão explícita.
Não sei se presenciei sorrir tão cativante. Sei apenas que meus olhos se voltam
a ele como metal ao ímã, como se fosse inevitável. E é! Homem-deus belíssimo,
com esse par de olhos de esmeralda que me faz desmanchar... Quem me dera,
moço... Quem me dera!</span></p>Giselle Jacqueshttp://www.blogger.com/profile/01802271450116822930noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7921902383566555688.post-52529493162510991732020-02-13T19:43:00.001-03:002020-02-13T19:43:03.127-03:00Sobre escrever errado<div class="" data-block="true" data-editor="c2s4q" data-offset-key="c4ha7-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="c4ha7-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative;">
<span style="font-family: inherit; text-align: justify;">Não encaro numa boa a onda-modinha atual de “deixa disso” em torno da escrita capenga. Não vou condenar alguém que escreve errado em redes sociais, porque são mil variáveis nesse cálculo. Mas, eu vou, sim, berrar quando essa pessoa resolve que é “escritor/a”. </span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="c2s4q" data-offset-key="12e3v-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="12e3v-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="12e3v-0-0" style="font-family: inherit;"><br data-text="true" /></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="c2s4q" data-offset-key="eev9g-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="eev9g-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="eev9g-0-0" style="font-family: inherit;">Em “escritor”, vou enquadrar também todos aqueles e aquelas que se comunicam através de palavras ditas/escritas (porque os roteiristas e quadrinistas e blogueiros e youtubers também são comunicadores). Mas, falo particularmente aos contistas, romancistas, resenhistas e etc.</span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="c2s4q" data-offset-key="b3nfc-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="b3nfc-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="b3nfc-0-0" style="font-family: inherit;"><br data-text="true" /></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="c2s4q" data-offset-key="cjfq-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="cjfq-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="cjfq-0-0" style="font-family: inherit;">Vamos às analogias (óbvias) que vocês tanto apreciam:</span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="c2s4q" data-offset-key="9ga4c-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="9ga4c-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="9ga4c-0-0" style="font-family: inherit;">Quando você manda fazer uma roupa em um atelier de costura, você não sai de lá com a roupa toda torta, pontos soltando e botões desencontrados dizendo “Ah, pelo menos a pessoa tá costurando!”. Você não sai feliz e contente, postando estrelinhas, de um restaurante no qual o/a chef queima a comida e troca o sal pelo açúcar. Chega de analogias.</span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="c2s4q" data-offset-key="bsane-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="bsane-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="bsane-0-0" style="font-family: inherit;"><br data-text="true" /></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="c2s4q" data-offset-key="ecs5a-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="ecs5a-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="ecs5a-0-0" style="font-family: inherit;">Escrita é uma profissão, gente. Um mínimo de cuidado a criatura que escreve tem que ter com o idioma que escolheu para se manifestar. Sim, às vezes, encontramos histórias ótimas, bem contadas, que instigam. Custa a mão que segura a pena ter um pouco de respeito pela escrita? É, respeito! Porque esse descaso crescente – e mais ainda esse paninho quente por cima – nada mais é que o emburrecimento seletivo que muitos tanto condenam na sociedade atual. </span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="c2s4q" data-offset-key="oes2-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="oes2-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="oes2-0-0" style="font-family: inherit;"><br data-text="true" /></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="c2s4q" data-offset-key="5oitc-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="5oitc-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="5oitc-0-0" style="font-family: inherit;">A cada momento em que o leitor deixa de lado o erro do escritor, ele apenas atesta seu desprezo pela linguagem. Então, que se queimem as gramáticas, rasguem-se os dicionários e explodam a ABNT. Não existe mais língua portuguesa! E a pergunta é: se tudo se aprimora, por que a escrita se degrada desse jeito?</span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="c2s4q" data-offset-key="6k71j-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="6k71j-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="6k71j-0-0" style="font-family: inherit;"><br data-text="true" /></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="c2s4q" data-offset-key="59on7-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="59on7-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="59on7-0-0" style="font-family: inherit;">Todo mundo erra, é claro! Até os experts erram. Mas, é um erro de vez em quando, não 35 por parágrafo... Não é questão de “eu sou melhor que você porque eu sei fazer isso”. Todos deveriam fazer isso “antes” de jogar na Amazon! Não precisa ser especialista, basta mais cuidado, mais amor para com o texto. Você deixa seu filho sair todo sujo de casa, com as roupas pela metade? E por que deixa seu livro ir ao mundo assim todo errado?</span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="c2s4q" data-offset-key="3de7v-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="3de7v-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="3de7v-0-0" style="font-family: inherit;"><br data-text="true" /></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="c2s4q" data-offset-key="ibc-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="ibc-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="ibc-0-0" style="font-family: inherit;">Quando revogaram a regulamentação de jornalista (qualquer um sem formação podia exercer a profissão), houve um levante dos profissionais pela manutenção da excelência, pela preservação (pelo menos, dos manuais) de estilo. Isso, no mercado literário brasileiro, está acontecendo ao contrário. Cada vez mais se aplaude o que é ruim, errado e malfeito. Eleva-se o tosco em detrimento, não do rebuscado, mas do apenas correto.</span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="c2s4q" data-offset-key="1vo2m-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="1vo2m-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="1vo2m-0-0" style="font-family: inherit;"><br data-text="true" /></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="c2s4q" data-offset-key="bkfvl-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="bkfvl-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="bkfvl-0-0" style="font-family: inherit;">O discurso de “não me importo de ler um livro com erros”, por si só, destrói a essência da escrita, que é (deveria ser) entregar conhecimento, seja qual for. O que se entrega com um livro cheio de erros é o contrário disso. E cada vez que um leitor e (pior) um escritor defendem a escrita “de qualquer jeito”, esses confirmam que a competência literária é desnecessária, que a própria literatura é obsoleta e obtusa como forma de arte e expressão. </span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="c2s4q" data-offset-key="fu0a7-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="fu0a7-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="fu0a7-0-0" style="font-family: inherit;"><br data-text="true" /></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="c2s4q" data-offset-key="6q81r-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="6q81r-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="6q81r-0-0" style="font-family: inherit;">“Ah, mas não se pode tirar da pessoa o direito de escrever!” Não, não pode e nem deve! O que se pode fazer é aprender a escrever direito. Não consegue? Contrata um revisor (eles existem para isso!). Não pode pagar? Procura aquele amigo que sabe mais e pede para ler seu livro. Dê o manuscrito a alguém (várias pessoas) que possam ajudar. Encontre um corretor ortográfico gratuito (deve existir isso, eu acho), já melhora muito o produto final.</span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="c2s4q" data-offset-key="1eoe-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="1eoe-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="1eoe-0-0" style="font-family: inherit;"><br data-text="true" /></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="c2s4q" data-offset-key="e85pg-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="e85pg-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="e85pg-0-0" style="font-family: inherit;">Sou pedante e preconceituosa? Posso até ser. Meu papel é o de defender a profissão que exerço. Meu desejo é o de, como leitora, ter direito a ler uma história bem escrita. Como escritora, meu dever é lutar para que a arte que me foi concedido praticar não se perca de vez em uma época em que o desmonte cultural vem a galope e atropela até Machado de Assis e Kafka... Era isso.</span></div>
</div>
Giselle Jacqueshttp://www.blogger.com/profile/01802271450116822930noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7921902383566555688.post-49405005449673294112019-10-10T10:24:00.003-03:002019-10-22T11:14:57.092-03:00Despedida<div style="text-align: justify;">
Sinto que é hora de parar, de encerrar um ciclo que me fez feliz por tantos anos, mas que já não reverbera. E quando aquilo que a gente ama para de fazer sentido, é preciso chorar, ruminar a dor da perda e deixar ir.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Baseei minha existência na ânsia da literatura por décadas. Fiz o que pude, fiz coisas de que me orgulho. Mesmo assim, perco meu lugar de fala, minha visão de mundo envelhece e não se renova diante do inevitável desgaste das gerações.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não vejo mais a sublime expectativa, o sorriso já não me brota ao ponto final de um novo manuscrito. Ao contrário, a tristeza cada vez consome mais minha já parca índole guerreira. Estou cansada demais para continuar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Talvez, de todas as mortes em mim, essa seja a mais dolente, a mais sangrada. Afinal, não sei fazer mais nada além de escrita. E se já não faço isso de alma, o render-se é um ato de salvação, não de fraqueza. Não sou mártir, jamais tive essa verve em mim. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda tenho muito a fazer para me deixar desmanchar por esse epílogo. Minha criança precisa de mim (e eu dela), meu trabalho segue. Os livros dos outros, não os meus. Não sei, por enquanto, o que vai ser. Já parei antes, embora nunca tenha encarado abdicar da coroa com tamanha consciência de realidade. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Desculpem por isso.</div>
Giselle Jacqueshttp://www.blogger.com/profile/01802271450116822930noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7921902383566555688.post-5251684559457891102019-09-17T16:56:00.000-03:002019-09-17T16:56:19.998-03:00Covardia<br />
<div class="MsoNormal">
(essa tem dono e ele vai ver, tenho certeza)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Deixar de tentar, dar o primeiro passo e recuar, essa é a
métrica do covarde. É um repetir constante de tentar mais uma vez e não sair do
lugar, chegar a arquitetar o plano e falhar por medo – puro e absoluto medo –
de colocá-lo em prática. É treinar para a maratona e não correr quando o tiro
dá a largada. Para esses, o único prêmio é a derrota. Única e repetitiva
derrocada – frustração, remorso, vergonha! –, porque é isso que o fraco merece.
Sempre o último lugar ou lugar nenhum.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Se a vontade, o desejo, a beleza da conquista ou o triunfo
da recompensa não são maiores ou mais brilhantes do que o medo da tentativa,
então nada vale a pena. Melhor e mais fácil – eu diria mais seguro, porque conforta
– esquecer de vez! Melhor abrir mão, fingir que nem viu, que nem conhece. Melhor
mesmo cessar a procura. Tratar o objeto do desejo ou a linha de chegada como um
mero amigo imaginário que só existe mesmo ali, dentro da cabeça. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Melhor desistir. Basta! Esqueça! Talvez o prêmio seja tão
grande que assusta. E se assusta tanto assim, não é para você – pois, provavelmente,
seja maior e mais perfeito do que aquele que não o alcança por covardia. Não é
nem um talvez, é certeza. O troféu será de outro. Mais precisamente, daquele
que tiver coragem para ganhá-lo! Esse, quem sabe, o mereça mais.<o:p></o:p></div>
<br />Giselle Jacqueshttp://www.blogger.com/profile/01802271450116822930noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7921902383566555688.post-45151483271726041992017-08-10T11:20:00.003-03:002017-08-10T11:23:42.064-03:00Carta ao Cosmo<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Desde muito jovem, eu acalento um
sonho no fundo da mente. Não sei se tive esse sonho ou se foi ele quem me teve.
Só sei que uma das lembranças mais antigas que tenho de mim mesma é uma criança
colando recortes em uma folha de almaço e “criando” um jornal. Um pouco mais
tarde, depois que aprendi a ler, meus momentos favoritos eram as horas em que
ouvia e copiava histórias lidas por minha avó, pequenos contos de uma cartilha pré-escolar.
Ela lia, eu escrevia.<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Já um tanto mais velha, os livros
passaram a oferecer uma espécie de fuga da realidade. Eram romances românticos,
impróprios mesmo para minha pouca idade. Ainda assim, estavam ali pela casa e
eu os lia. Quanto à necessidade de fuga, a palavra atual é mais bonita do que a
explicação. Bullying. A fase crítica da adolescência foi marcada por desastres
sociais, introspecção e pelas revistas periódicas do Círculo do Livro. Foi
assim que o primeiro romance de fantasia caiu em minhas mãos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
Ainda tenho na estante os quatro exemplares
amarelados de As Brumas de Avalon. Ainda lembro de cada um dos livros da autora
que encomendei depois de ler a saga de Morgana e Artur. Foi no meio dessas
leituras que uma pergunta surgiu. Uma questão que mudaria tudo. Será que eu
poderia fazer aquilo? E essa foi a primeira vez que imaginei de fato, eu e meus
devaneios de 15 anos, que eu também, talvez, pudesse contar histórias. <o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Claro que, antes disso, houveram
os blocos escritos à mão. Contos e historietas bastante ruins, amadoras,
nascidas de uma imaginação incauta de estudante da sétima série do que antes se
denominava Primário. E poesias, claro! Algumas publicadas em jornais de bairro
e de clubes. Quando apresentei três dos meus poemas em aula, a voz da
professora me dizendo que eu estava mentindo, que não poderia ter escrito
aquilo e que exigia o nome do autor ou me tiraria a nota, me marcou para
sempre. Não havia nome de autor, também não houve fuga da recuperação. Quase
perdi o ano por escrever algo além do que era esperado da minha capacidade.
Pena não ter essa definição clara na época. Seria um elogio.<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O fato, enfim, foi que me pus a criar
ficção. Em blocos, cadernos, na velha máquina de escrever Olivetti. Sou do
tempo da aula de datilografia na escola, o que facilitou tudo. E a adolescência
passou em dezenas de livros devorados e calos nos dedos por conta do lápis.
Assim que atingi a maioridade, junto com a libertação da casa materna, nasceu
também um manuscrito. O primeiro romance, o mais singelo, o florescer
aventureiro e fantasioso do que eu nem sabia que sabia fazer. Não era um livro,
era um polígrafo datilografado com 188 páginas e encadernado em espiral. Era
minha obra de arte!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
Foi nessa época que outra frase a
respeito de meu talento me atingiu bem no peito. “Tu escreves bem, mas é hora
de parar de brincar de escritora e escolher uma profissão de verdade.” Então,
fechei meus cadernos de fantasia e abri os de universitária. É possível que eu
tenha entendido mal o termo “profissão de verdade”, pois escolhi o que me
garantiria ganhar a vida escrevendo. Essa era a grande meta e fui ser
jornalista. Quatro anos mais tarde, diploma na mão, convenci a mim mesma de que
tinha abdicado da literatura. Pelo menos, da minha, porque nunca parei de ler.
Era uma mentira, como descobriria a seguir.<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ao contrário do que eu esperava,
e contrariando a real paixão que eu tinha pela reportagem, o jornalismo como
profissão durou bem pouco. Logo, a fotografia – que me cativara completamente
durante a faculdade – me levaria ao universo da publicidade. Para piorar a
situação, voltei ao ambiente acadêmico e me decidi pela especialização em
cinema. “Ora veja, cinema! Vai trabalhar no que?” O que eu queria? Eu queria
ser roteirista. E fui. Talvez pela despretensão empreendida nessa nova profissão,
as coisas tenham fluído tão bem. Escrevi e dirigi curtas-metragens, trabalhei
em televisão, ganhei prêmios e um lugar no complicado mundo da produção de
comerciais. Tive meus 15 minutos de fama.<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A facilidade de levar a público algumas
das minhas histórias fez com que a gana de escrever amenizasse um pouco. Fazer
filmes era um substituto eficiente ao criar literário. Embora o livro fosse o
objeto de desejo mais idealizado. Foi pensando nisso que entrei em meu primeiro
concurso de contos. Com isso, percebi que jamais tinha parado de escrever, como
tentei me convencer naqueles anos todos. Descobri pilhas e mais pilhas de conto
espalhados por todos os lados. Quase uma década de produção escondida em
páginas pautadas, blocos de notas, arquivos de Word. <o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Fui uma das vencedoras daquele
concurso. Tive dois contos publicados no inverno de 2000. Minhas histórias
estavam, enfim, nas páginas de um livro. Achei que era o suficiente e tratei de
travar o foco na carreira. E os anos passaram mais loucos e mais velozes. <o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Minha filha nasceu no outono de
2007. Junto com esse, que foi o fato mais doce e apavorante de todos,
encerrou-se de vez minha vida de produtora publicitária. Decidi parar tudo e
ser mãe. Foram três anos lindos e lúdicos até que meu bebê começasse a ficar
independente de mim. E percebi que tinha tempo de sobra, tinha minha casa,
minha criança, meu blog, meu emprego em home office trabalhando para uma
editora de livros médicos. Tinha uma vida normal.<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Normalidade. Essa palavra precisa
ser repensada um pouquinho. Eu sempre soube que não era normal. Nunca fui. As
coisas pelas quais eu deveria lutar não me pareciam interessantes. As metas de
vida das mulheres – e homens – com quem cresci não me diziam nada. Nunca
consegui ser feliz em um emprego das 8 às 18. Nunca me conformei com uma única
tribo ou música ou ídolo. Nunca me desfiz de meus amigos imaginários. Nunca me
casei. Penso que sou uma espécie de idealista, uma inconformada crônica. Mas,
eu tentei. Ninguém pode dizer que não tentei ser normal, cor-de-rosa, de salto
alto e batom. Só não funcionou.<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Certa noite, tive um sonho. Sonho
mesmo! Acordei com uma cena na cabeça, três personagens. E eles tinham rostos e
nomes e personalidades. E eles tinha uma história. Anos mais tarde, li que J.
K. Rowling sonhava com Harry Potter. O meu poderia ter sido só um sonho,
daqueles que fazem a gente sorrir e depois são esquecidos. Bom, não foi assim. Um
mês mais tarde, finalizei a história daqueles personagens. Escrevi como se arrancasse
da alma aquela ficção. Outra vez o germe da literatura invadia meu sangue. Não,
não tem cura para isso.<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Dessa vez, porém, pensei com meus
botões: “Já fiz tudo. Só falta isso.” E, aos 36 anos, desisti de tentar frear
esse ímpeto, desisti de desistir e me joguem de corpo, mente e espírito numa
empreitada tanto devastadora quanto sublime. Publiquei meu primeiro livro em
2012 – esse do sonho! De lá até aqui, já são 10 livros publicados, entre
contos, crônicas e romances, entre impressos e digitais. Nesse caminho, tive o
privilégio de ajudar a parir mais de cinquenta obras de variados estilos e
autores. Recentemente, tornei livro de verdade aquele velho polígrafo
encadernado em espiral. Meu primogênito engavetado por tanto tempo. Lancei-o
depois de 25 anos exatos de sua criação. <o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em todo esse tempo, a literatura
nunca me abandonou e eu, apesar de escorraçá-la da minha vida, sempre a levei
no coração. Entre erros e acertos, acho que fui bem. Fui tão bem e tão intensa
nesse desejo de ficcionar que, tenho sentido, esse veio d’água esgotou-se.
Agora, tenho vivido meu luto interno por algo que finalmente morre em mim. Não
posso dizer que vou parar de escrever, pois não sei fazer mais nada de verdade.
Contudo, creio que posso encerrar com mérito essa fase “escritora” da qual
desfrutei tanto até aqui.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não sei se a inspiração realmente
me deixou de lado, se as musas estão apenas de férias ou se é de uma sacudida
assim que minha criatividade precisa para recomeçar. Só sei que, mais uma vez,
entro em estágio de mutação. E, por enquanto, a literatura em mim será uma boa
lembrança. Não sei o que fazer daqui para frente. Não sei se o tempo terá uma
resposta. Por agora, um brinde ao futuro. Ou não.<o:p></o:p></div>
Giselle Jacqueshttp://www.blogger.com/profile/01802271450116822930noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7921902383566555688.post-19274107427972755692016-06-28T12:33:00.002-03:002017-08-10T11:18:47.237-03:00Monólogos<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eu ando triste. Apesar de tudo em
seu lugar, ando triste. Apesar da cadência controlada dos dias e dos rituais domésticos
e suas competências bem estruturadas, ando triste. E na busca desesperada por
conforto, recolho-me aos pensamentos, aos devaneios que me afastam da realidade
asfixiante. Me invento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em minha mente torpe, tudo é
possível, tudo viável. Nesta em que me moldo tão abruptamente, não vejo a
máscara que me assombra do espelho. Tornei-me, no mundo real, uma desfigurada,
meu rosto é uma carranca entalhada em carvalho decrépito, com a ruga constante
de preocupação fazendo encontrar as sobrancelhas. Não gosto da imagem, é feia.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Por isso, fecho os olhos quando
quero ver a mim. E no meu mundo imaginário sou livre, sou bela e sorridente. No
delírio do abraço e da paixão, sou amada e toda a solidão que me rodeia não
existe. Simples como aconchegar-se a um cobertor num dia frio, simples como ler
um livro – sim, eu gosto de Djavan! –, faço-me aquela que quero ser. E
embalo-me nesse acalanto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Tenho feito tanto essa incursão
ao plano da irrealidade, minha Terra do Nunca, que já é difícil conciliar
trivialidades necessárias – como comer ou dormir, por exemplo – com a plenitude
que só encontro entre fantasias. Cada vez vivo mais dentro de mim, cada vez
mais ouço as vozes que dialogam comigo e me separo do monótono monólogo da
realidade. Por vezes, nem mesmo defino o que é real.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sinto que mergulho fundo, quase
sem possibilidade de retorno, nessa criação tão fantástica de mim mesma, em que
sou completa e nunca durmo sozinha. Crio amantes, amores, beijos, romances,
suores a dois. Crio felicidade e encantamento, poder e juventude, tudo ao mesmo
tempo e apenas para mim. <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Refaço os passos e redigo as
frases tantas vezes quantas necessário para alcançar a perfeição de cada
momento. E são momentos perfeitos. Tanto que fica cada vez mais complicado
retornar desse mergulho na escuridão da mente, emergir para a luz da fleuma que
me aguarda aqui fora. Cada vez mais difícil voltar. Deve ser desse jeito, bem
assim mesmo, que se enlouquece.<o:p></o:p></div>
Giselle Jacqueshttp://www.blogger.com/profile/01802271450116822930noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7921902383566555688.post-65449913429442434552016-06-25T21:08:00.001-03:002016-06-25T21:08:58.452-03:00Tem horas<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Tem horas que eu queria só um peito para recostar a fronte.
Poder pender meus terrores ao conforto do pulsar de outro coração. Fechar meus
olhos e ter a testa amparada por outra força, outra posse, outra coragem. E
ancorar, nem que por um ínfimo segundo, no porto seguro além de mim mesma.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Tem horas que eu adoraria a mão alheia espalmada num afago
em meu rosto, um carinho simples, fugaz, descompromissado. Deixar suspiros escaparem
aliviando a pressão. Ter somente a leveza do toque a sustentar essa alma
cansada que tanto pesa, que tanto pena, que escora o fardo que sou eu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Tem horas que eu daria tudo por um olhar intenso e
silencioso. Pelo privilégio de poder ver-me em outras retinas, dessas que me
enxergassem inteira. Que me vissem sem máscaras, sem máculas, sem roupa. Um
olhar que me dissesse tudo e me fizesse todas as juras. Que jurasse me assistir
além de mim.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Tem horas que eu me contentaria com o sorriso, o colo, o
abraço. Eu me satisfaria facilmente com qualquer minúscula tentativa de afeto,
de achego, de abrigo. Eu seria feliz com qualquer contato, qualquer apreço, qualquer
beijo. Seria menos eu por um instante e faria de mim esse nada necessário para
recomeçar.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
Giselle Jacqueshttp://www.blogger.com/profile/01802271450116822930noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7921902383566555688.post-22448889161677218202016-05-10T14:40:00.004-03:002016-05-10T14:41:22.906-03:00A febre do artista<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Há momentos em que eu invejo a
placidez das pessoas comuns, daqueles indivíduos ordinários e sequenciais que,
mediocremente, levam suas vidas dia após dia da mesma forma e modelo. Invejo a
paz que o não-viver traz a essas pessoas. Invejo o ordenamento constante do
cotidiano sem solavancos.<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Todo artista tem em si a febre do
mais-além. São criaturas miseráveis que jamais se contentam com o cadenciamento
dos dias normais, dos meses iguais, dos anos constantes. Artistas são
incontentáveis por natureza. Nada, absolutamente nada, os satisfaz por mais que
poucos instantes. Nem as mais bravas conquistas ou os sonhos mais difíceis de
realizar são álibi para parar sua busca. Felicidade é matéria tão volátil
quanto a satisfação.<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sim, eu sou artista. Artista da invulgar,
magnânima e rompante arte da escrita. Diferente de meros mortais causais,
minhas vidas – sim, são várias – entremeiam-se de aventura, romance, dor,
sofrimento, fantasia, ação, mistério, drama e de tudo mais que não cabe na
caixa aberta de Pandora que é minha mente criativa. É através desse prismático
turbilhão de cores e contrastes que vejo o mundo. Não exatamente o mundo real.
Mas, enfim, realidade e arte quase nunca andam juntas pela mesma estrada.<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Diferente da pessoa normal,
aquela cujas preocupações envolvem a criação dos filhos, as contas de início e
final de mês, as férias de verão ou a poupança para a velhice, minhas
inquietações se traduzem exatamente nisso: inquietação. Não que eu não tenha
também as tais contas a pagar, só não posso – está além de minhas
possibilidades – levar a vida com a mera intensão de pagá-las mês a mês. De
fato, não consigo fazer disso meu único e notório objetivo, por mais nobre que
seja. Preciso de emoções distintas, causa e efeito, paixões e assassínios, inícios
abismais e finais pungentes. E preciso disso como de uma droga.<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quisera eu poder acordar todos os
dias com a única preocupação de levar guarda-chuva, caso chova. Quisera ter um
relógio-ponto avisando-me que é hora de comer. Quisera voltar para casa assiduamente
a esperar pelo jantar, pelo telejornal, pela novela. Ansiar por uma cama
quentinha e pelo fim de semana de descanso, calçando chinelos e jogando bola
com as crianças e o cachorro. <o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quem me dera essa obviedade
diária, essa exatidão vital de continuidade e repetição. Quem me dera que a
mente apenas seguisse a lista de afazeres domésticos sem se atrelar a viagens fantásticas
a reinos inexistentes. Quem dera poder levar minha vida a cada dia como se
fosse o mesmo e estar contente com isso. Todavia, não é assim. Mesmo que numa
tentativa ávida pela normalidade eu me renda ao coloquial, algo incomoda.
Sempre cutucando a mente como ponta de estaca no coração do vampiro. E esse
incômodo atende pelo nome de imaginação.<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não é fácil, creiam-me, manter a
rotina quando, segundo após segundo, a imaginação berra por pontes sobre
arco-íris, cavalos de Troia, calabouços e cadafalsos, unicórnios e dragões.
Nada fácil conter as vidas de personagens que nos agarram pela gola e gritam
personalidades e diálogos o tempo todo. Muito menos fácil concentrar o
raciocínio em usualidades quando nomes e lugares que nem existem – e jamais
existirão se não os criarmos – jogam-se aos nossos pés replicando atenção. <o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sim, a criatividade é um fardo
onipresente. Um latejar dolorido, uma necessidade quase física, um permanente descontentamento.
Um querer mais do que o que já se tem. Tanto que nenhum prêmio é suficiente,
nenhuma alegria é plena, nenhum momento traz paz. É a extenuante maldição dos
artistas, criar sem cessar e agonizar quando a criação falha. Nenhum troféu
engrandece, nenhum orgulho preenche, pois as vozes das musas sempre pedem mais. É nesse momento que eu invejo os pobres de espírito, os ordinários, os comuns.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Que bom seria apenas descansar de
tudo isso, parar o espírito e limitar-se a existir, assim, sem perspectivas
maiores do que o final de semana de chinelos. Mas, não é assim. Eu sou artista
e, como artista, sofro os arroubos que a arte exige de mim. Jamais farei parte
do rebanho, jamais me deixarei embalar pela mesmice aconchegante dos chinelos
de domingo. Jamais serei menos do que sou ou mais do que desejaria. Seremos somente
nós, eu e minha imaginação. A cada texto, buscando um mero momento de silêncio e
alívio depois do ponto final. Até o próximo texto.<o:p></o:p></div>
Giselle Jacqueshttp://www.blogger.com/profile/01802271450116822930noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7921902383566555688.post-14953707684434028682016-02-09T21:15:00.003-02:002016-02-09T21:21:38.484-02:00Marionetes<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Cansei de desfazer, cansei de refazer. Cansei de procurar,
meu bebê. Hoje me pego só recolhendo os cacos que, porventura, desgrudam da
face esfacelada e caem no chão. Vamos voltar ao tempo da poesia, então. Vamos
fugir para o mundo da fantasia. Que tal? Lá onde eu e você possamos ser
qualquer anjo, qualquer monstro, nós mesmos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
Acontece que também perdi a habilidade de abrir o portal por
trás do espelho mágico. Você ainda a tem? Todas as regras e normas que enraizaram em mim me
tornaram menos luminosa. E você sabe que só esse brilho do pó das fadas faz a
roda funcionar. Engrenagens emperram quando não são usadas. Uma lástima isso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
Agora, todas aquelas máscaras que vestimos ao longo dos anos incontáveis parecem ter-se
fundido. Já não é possível tirar. Não é possível despir. Nossa nudez já não é
fantástica, já não cativa nem encanta. Incrível como ficamos assim, tão
engessados. Nos deixamos moldar. Bonecos de cordas cujas cordas não se movem por pura falta de mãos
a conduzi-las. Marionetes de nós mesmos.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Amedronta-me compreender, entretanto, que esse não-ser,
não-mover, não-sentir torna-se a regra e não o acaso. Tenho medo de olhar no
espelho mágico e não ver aquela que sempre achei que era eu. Ou, talvez, aquela
que jamais pensei que pudesse me tornar. Mas esse é o fato. Crepitamos, decrepitamos.
Cansamos de lutar contra as normas e, finalmente, paramos. <o:p></o:p></div>
Giselle Jacqueshttp://www.blogger.com/profile/01802271450116822930noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7921902383566555688.post-89610448367297390952015-12-22T21:03:00.001-02:002015-12-22T21:03:50.480-02:00Retrospectiva<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Queria um pouquinho mais de ti.
Queria um pouquinho mais de mim. Queria um pouco mais do mesmo. O tempo de espera
é desperdício de ato, é desperdício de fato, é fatídico. O tempo que espera o
tempo, que espera o beijo, que espera o pouco. Um pouquinho de espera que
espera o que não vem.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
Queria a urgência do amor bandido
do Cazuza na voz da Cássia Eller. Queria reter o tempo perdido de Renato. Conter
o tempo, traçar a tempo a linha que divide o ontem e o agora. O retrospecto que
não salva o ponto exato na linha do tempo, que não lembra que a memória deleta
sem possibilidade de recuperação.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
Queria recordar apenas em linhas
felizes, linhas reta, relevantes. Linhas livres de haveres, de espera parada, de
inércia mofada. Queria estabelecer o ponto de corte. Cortar o filme, o
capítulo, e começar o futuro do ponto exato do beijo que se perdeu no asfalto. Quebrar
o tempo velho e renovar o pouco que sobrou.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quem sabe, assim, reinventando o
novo como se fosse outro passado, reciclando o fato, o ato, o tédio... quem
sabe, assim, o agora se faça pra sempre, se faça a presença que o nunca sempre
foi. Quem sabe, uma boca inesperada faça um novo beijo. Um outro beijo, original,
inesperadamente presente.<o:p></o:p></div>
Giselle Jacqueshttp://www.blogger.com/profile/01802271450116822930noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7921902383566555688.post-26820975726185941512015-11-07T23:46:00.000-02:002015-11-07T23:48:42.231-02:00Simulacro e estereótipo das relações<div class="MsoNormal">
<b>Da série Análises da Busca - <i>Teoria da Solidão Crônica</i><o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>2</b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Mesmo quando
renegamos nossa original necessidade de grupo, mesmo quando nos julgamos
independentes e autossuficientes perante o mundo em que vivemos, mesmo que
nossas conquistas e posição social nos pareçam capazes de suprir qualquer
necessidade de contato, pecamos pela busca por aprovação. Quem nos aprova, nos
endossa, são os outros, a sociedade ao nosso redor. Nutrimos, mesmo que
veladamente, a obrigação de integralidade nos grupos nos quais nos inserimos.
Tendemos a nos aliar a nossos iguais.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Essa
contradição coabita conosco desde que simulamos essa forma de vida independente
e apartada. O simulacro de individualidade que projetamos serve para que
tenhamos a sensação de superioridade. Se não precisamos de ninguém, somos
magnânimos. Se somos os melhores, lideramos. Outra vez o lapso egóico do líder.
Para liderar, deve haver seguidores. Para comandar, devem existir comandados.
Se estamos em uma tropa de um só homem, em quem mandaremos? Quem cumprirá
nossas ordens além de nós? Quem nos prestará a homenagem e a reverência devidas
por nossa liderança? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Então, como
num ato de rebeldia sensorial, o instinto manda que o ser humano moderno se
encaixe em determinados conceitos, com determinadas atitudes, em uma plena
simulação, um reflexo, do que ele vê e considera bom para si mesmo. No real
comando destas opções de encaixe social está um advento que nasceu também da
necessidade básica de convívio e comunicação: a mídia.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Como a voz de
comando mais acessível e aceita, quase que totalmente sem questionamentos pela
maioria, a verve midiática é o grande líder que rege as vidas e as ações dos
seres humanos modernos. É a mídia o Deus onipresente, o “grande irmão”, como
descreveu Orwell. Implantando em cores e sons as regras de moralidade e
convivência das quais necessitamos para um bom desempenho social cotidiano.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Essa máquina
midiática é nossa consciência externa, nosso comando. Como em uma imensa sessão
de hipnose, obedecemos os preceitos por ela passados. E os reais líderes,
aqueles que ditam as regras, fazem uso dessa rede para que sejamos nós os
comandados, mesmo que sigamos acreditando em independência e individualidade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
É dentro
dessa máquina ditadora de normas que entendemos qual a maneira mais adequada de
nos relacionarmos com nossos semelhantes, nosso grupo. A partir dessa extrema
conceituação, em que rótulos nos servem de bandeira e definem socialmente o que
somos e como nos comportamos, é que os estereótipos se firmam como verdade e a
barreira entre grupos é estabelecida causando a separação dos não iguais.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
A segregação
social é a arma para o controle. O ser humano, enquanto indivíduo, não pode ser
contido, pois que pensa e seu pensamento é único e individual. Em grupo, o
pensamento comum obedece ao líder. Em um grupo grande demais, entretanto,
corre-se o risco da dissidência. Abre-se uma fenda por onde pensamentos alheios
ou conflitantes com a ordem se geram por si próprios, o que ameaça romper o véu
estável do todo. A maneira mais natural de impedir a dissidência é apartar do
grande grupo os indivíduos contrários às normas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Assim,
apelando para nosso instinto ancestral de grupo, diversos estereótipos e
simulacros ideológicos foram lançados, exortando entre si suas diferenças, não
suas semelhanças. E a rede midiática alcança a todos, cada qual com suas
peculiaridades, tornando os grupos rivais ou inimigos, ou simplesmente
invisíveis uns aos outros. É a simulação da ordem individual, da liberdade de
expressão, da contemporaneidade. O simulacro confortável atenuando a solidão crônica.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
Giselle Jacqueshttp://www.blogger.com/profile/01802271450116822930noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7921902383566555688.post-78323512635412559672015-11-05T22:44:00.000-02:002015-11-05T22:59:23.430-02:00Homem, um animal social<b>Da série <i>Análise da Busca - Teoria da Solidão Crônica</i></b><br />
<b><i><br /></i></b>
<b>1</b><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
O ser humano
é um espécime de grupo por essência. Desde os primórdios de evolução da raça
humana, vivemos em bandos, nos relacionando e interagindo com seres
semelhantes. Somos o que podemos nos acostumar a chamar de animais sociais. O
desenvolvimento desse cunho social, a sociedade evoluída gerada a partir do
modo racional de operar, desenvolveu a civilização tal como a conhecemos e
absolutamente baseada na convivência em grupo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Bandos, tribos,
povoados, cidades, países. Somos predestinados por nascimento a pertencer a
determinado grupo, raça, casta, família, nacionalidade, etc. Em foro mais
íntimo, cada um de nós tem, a princípio, um núcleo familiar direto e outros
pequenos agrupamentos de convivência pessoal. Somos ensinados a conviver e a
trocar experiências com outros seres humanos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Nesse
sentido, desenvolvemos laços de afetividade para com os outros do grupo, os
mais próximos ou aqueles com os quais desenvolvemos certa afinidade mais relevante.
Conseguimos desmembrar grupos grandes em, por exemplo, conhecidos, amigos,
melhores amigos. Dessa gama de afetividades, e também pela pressão por
socialização e continuidade da espécie, somos impelidos a buscar parceiros para
a vida íntima, pessoas com quem desenvolveremos nosso próprio núcleo familiar,
gerando assim um novo agrupamento, um novo bando.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Claro que
teremos sempre aqueles que preferem a contracultura, o antissocial, que optam
pelo isolamento. Relatos históricos nos falam sobre eremitas habitando cavernas
e outras alegorias, ficcionais ou não, do mesmo parâmetro. Mesmo algumas
comunidades se fecham para a convivência mundana. Templos e mosteiros de
clausura existem por todas as épocas e religiões. Estes, contudo, não são
apartados dos de seu núcleo, que se refaz na ordem que seguem e no professar
dos ritos da religião e afins. Andarilhos como os santos homens da Índia seguem
o mesmo princípio, apesar de não se isolarem fisicamente dos semelhantes, mas
preferirem habitar florestas e arredores das cidades ao interior das mesmas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Diferente da
maioria das espécies de mamíferos, essa união com o parceiro é reservada e
particular, normalmente monogâmica e não compartilhada por nenhum outro membro
de fora do bando. Essa especificidade é, contudo, autoimposta, tendo sua
fundamentação nas leis morais da evolução humana e não no instinto de
sobrevivência e perpetuação que move os animais não racionais. São doutrinas
religiosas, políticas e legais que determinam esse <i>modus vivendi</i>. E também são as regras sociais as que dizem a cada
grupo o que é bom. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Não raro,
tomamos conhecimento de comunidades, físicas ou dogmáticas, que praticam e
incentivam a união poligâmica ou a diversificação de parceiros. Assim como
temos também aquelas que incentivam e promovem o celibato e a convivência dos
seus sem fins de procriação. O que conta, realmente, é a forma como as pessoas
pelo mundo estão impelidas a se unir, a se aproximar de seus iguais ou
complementares. O ser humano, salvo algumas exceções, tende a buscar a vida em
grupo, em família, em sociedade, <st1:personname productid="em parcerias. N ̄o" w:st="on">em parcerias. Não</st1:personname> somos treinados para viver
sozinhos por longos períodos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Com o advento
da modernização da vida humana, a carga de trabalho, a monetarização, a
sobrevivência tecnológica, o aumento de ritmo nos centros urbanos, cada ser
humano se viu apartado de suas convivências de escolha por mais tempo do que se
diria confortável. Essa redução da vida social em prol da vida produtiva vem
alterando as prioridades e os fluxos de interação entre as pessoas. Famílias que
se separam, entes que moram longe, grandes distâncias entre cidades, estados,
etc.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Esse
afastamento progressivo gerou a necessidade de aproximação virtualmente
reconfortante, fazendo nascer e avançar os meios de comunicação. Correios,
telefone, celular, internet. Todo um aparato tecnológico foi sendo desenvolvido
para sanar a distância entre os seres humanos. Enquanto este texto é escrito,
estamos em plena era digital, na qual as redes sociais tomam a frente dos
relacionamentos, eliminando distâncias antes quase insuperáveis de maneira
imediata, munidas de aparatos totais como escrita, som e imagem em tempo real.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
A causa e o
efeito dessa virtualização das relações interpessoais podem ser sentidos através
de todo o planeta, dos povoados mais remotos até as capitais demograficamente
fervilhantes. É certo, contudo, que grande parte de nós ainda está longe de
qualquer forma de comunicação de longa distância, por mais básica que seja.
Ainda temos tribos africanas, indígenas, beduínos e montanheses, por exemplo,
absolutamente aquém das revoluções da tecnologia que rodeiam a nós, habitantes
da parte evoluída do globo. Outros fatores determinantes são o poder aquisitivo
regionalizado, os sistemas absolutistas de governo, orientações religiosas,
etc. Mesmo assim, é pura questão de tempo para que a tecnologia alcance a todas
as regiões da Terra, sem distinção.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Entretanto, a
aceleração do modo de vida, as constantes atarefações para com o status
financeiro, o alcance de um simples digitar de computador, tudo isso tem levado
o ser humano a afastar-se mais ainda do convívio íntimo com seu semelhante.
Relações pessoais se estabelecem por conveniências, por interesses comuns, por
necessidades. E aquelas que deveriam se estabelecer por afinidade são relegadas
a segundo plano.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Estamos cada
vez mais sós no mundo exatamente por culpa de nossa própria evolução. Estamos
cada vez deixando para mais tarde a tarefa biológica e social de fundarmos
nosso próprio núcleo familiar. E também em consequência da sobrecarga diária,
nos afastamos mas de nosso grupo de origem. Resumindo, nos apartamos do que era
considerado primordial no início de tudo. Nos tornamos os eremitas, a diferença
é que trocamos a caverna pela cápsula invisível a qual vestimos a cada dia e
que nos torna intocáveis aos demais. Somos sozinhos no grupo. O que
descaracteriza esse grupo como tal, restando-lhe apenas a denominação de
multidão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Ficou no
passado quase remoto a grande comunidade na qual os pequenos núcleos interagiam
e conheciam-se. Cidadelas nas quais cada vizinho conhecia o próximo, em que as
crianças estudavam juntas por todos os anos de escola, que os novos casais eram
velhos amigos de infância. Atualmente, a horda de transeuntes desconhecidos é
um reflexo da modernidade, da emancipação de cada pessoa, do afastamento
social. Mesmo em locais restritos, como uma empresa, comum é e será cada vez
mais que colegas sejam meros desconhecidos. Prédios de apartamento cujos
moradores nunca trocam palavra são exemplos triviais do comportamento discreto
e reticente que toma conta do ser humano contemporâneo e o encapsula em seu próprio
universo restritivo de relacionamentos sociais.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Remontando ao
tempo das tribos e das primeiras comunidades maiores, percebemos o advento do
líder, do alfa, o patriarca ou a matriarca que congregava ao seu redor os
familiares e agregados. Eram núcleos controlados e menores. Os núcleos atuais
são grandes demais e, apesar de sempre haver um líder, este não o é de fato
como seu similar antigo, pois que não interfere diretamente no viver dos
congregados. Nesse sentido, cada um é seu próprio líder e essas lideranças
chocam-se no conflito do derradeiro comando. Não mais com pedras e espadas, mas
com as ferramentas modernas do poder. E assim, cada um sendo líder de um núcleo
formado de um indivíduo, o espaço para o agregamento de outrem segue cada dia
mais restritivo.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Reaver o
conceito original de grupo, hoje em dia, seria encarado como o mesmo que abrir
mão do comando, da liderança, dessa condição exclusiva e excludente que
chamamos independência. Tornamo-nos, sim, independentes e individualistas. De
fato, cada um de nós, humanos modernos tecnológicos, nota com estranheza, e até
como antinatural, a necessidade primordial de conviver em bando, de
relacionar-se íntima e efetivamente com nossos semelhantes. Eliminamos
categoricamente a disponibilidade nossa para com o outro. E se a recíproca é
verdadeira, isolamo-nos, mesmo cercados de gente. É nesse preciso momento, de
isolamento e conquista da independência, que nos tornamos solitários. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
Giselle Jacqueshttp://www.blogger.com/profile/01802271450116822930noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7921902383566555688.post-89889256543369408562015-10-03T10:36:00.002-03:002015-10-03T10:38:06.639-03:00Pacto<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Me apaixono por você toda semana.
Todo encontro. Uma vez por mês. Tipo isso. Mesmo que você não mereça ou nem
ligue. É como uma dependência, uma química. Talvez seja quase um vício.
Daquelas coisas que a gente faz e não tem muita explicação. Só faz bem. E nem
tão bem, um deleite momentâneo, passageiro, um agrado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Depois desse tempo todo, já nem sinto a sua falta. Só
quando você está perto. E é aí, ao alcance da mão, que o coração lembra de
gostar de você acima de qualquer afeto, de qualquer merecimento. É quando a
boca tem saudade do beijo, da barba arranhando a pele. Acho que é desejo e só.
Mas se fosse só desejo, se explicaria a plenitude que eu sinto ao te ver
dormir?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sim, você já sabe de tudo isso.
Tem plena consciência desse meu carinho dependente. E não se importa, eu sei.
Não posso exigir mais atenção, não posso querer foto de casal na internet, ou
passeios de mãos dadas. Nada tenho de você além de amizade e desejo. E nisso,
somos parceiros.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Culpa sua? Você é o insensível?
É, até é. Mas eu permito que assim seja, dou minha bênção a você e sua inércia
descompromissada. Abençoo minha sorte a cada peça de roupa que você deixa no
chão do quarto. E na manhã seguinte, sempre acordo a tempo de ver você dormir.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E é nessa espera pontuada e eterna
por uma palavra carinhosa, por um olhar mais profundo, que vou levando nosso
existir esparso, enevoado pela distância que sempre leva você de mim. A
distância que destoa da proximidade de nossos corpos, de nossas mentes.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Me apaixono por você toda semana,
todo encontro, uma vez por mês. Mas esqueço de existir por você assim que a
porta se fecha. Estanca a saudade e o querer desenfreado, estanca a memória da
tua pele, teu cheiro. Tudo para e amortece até você voltar. E esse é o pacto. Você
sempre volta.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
Giselle Jacqueshttp://www.blogger.com/profile/01802271450116822930noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7921902383566555688.post-10120190707777609242015-10-01T23:01:00.002-03:002015-10-01T23:02:44.116-03:00O espelho me disse...<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Desde tenra idade, costumava (e
costumo ainda) ouvir certa canção de um grupo pra lá de antigo! Música de
força, com eu denomino, música que dá aquela injeção de ânimo, de vigor e de
jovialidade! Música que nos bota lá no alto, nós e nosso ego!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Hoje, porém... agora mesmo... ouvindo
outra vez essa mesma música, a ficha caiu. Compreendi que a letra da bela canção
nada mais é do que a verdade absurda, a realidade salgada, estapeando a minha
cara de trouxa... a música não é de força, é de resignação, de repreensão, de
lástima.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Tantos anos, décadas, escutando
aquelas palavras rimadas, cadenciadas ao ritmo forte, achando que o mundo era
meu. E era exatamente o oposto. Não é de vitórias que a letra fala, não é de
minha habilidade natural de ressurgir das cinzas. A letra fala outra coisa...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A frase mais forte, mais
idolatrada, aquela que mais me representava, diz apenas que não sou diferente,
que não sou melhor, que continuo a mesma pessoa que precisa se refugiar em uma
música para esquecer que a realidade é mesquinha e medíocre. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ainda sou aquela adolescente
tímida escondida atrás de óculos de aros de plástico preto. Ainda sou a que não
é bela nem fera, a que não é forte. Ou é, mas nem tanto... Ainda sou a menina
feia, a moça sem graça, a mulher anônima. Ainda sou a mesma.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não, espelho, eu não tinha
compreendido que o não mudar se referia ao que sou de fato, não ao que minha
mente gerou desse “eu mesma” artificial e poderoso. Não havia entendido, até
agora, que quando você me grita que não mudei, é essa sombra que sou, esse
arremedo do que queria ser, que continua imutável.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Agora tudo faz sentido. A vida
que levo não exatamente é aquela que quero. Nem sempre estou com a razão,
afinal. É, espelho, você tinha razão o tempo todo. Não, eu não mudei. Não
mudei...<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Giselle Jacqueshttp://www.blogger.com/profile/01802271450116822930noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7921902383566555688.post-51061760612853630662015-09-11T12:29:00.000-03:002015-09-11T12:33:28.381-03:00Sou Velha<div style="background: white; line-height: 14.5pt; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="MsoNormal">
Dia desses, mandaram me dizer que
eu sou velha.<br />
E eu concordo em todas as instâncias.<br />
<br />
Vejam, não me disseram que
"estou" velha, mas que "sou" velha. O que implica uma
diferença significativa. No meu julgamento, a declaração não tem a ver com
idade. Tem, sim, uma tentativa de ofensa que, em verdade, é verdade!</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
“Ser” velho significa finalmente
absorver os ímpetos de juventude, os arroubos de aventura e os sonhos
megalômanos de um futuro esplêndido. Significa uma calma que só os que são
velhos têm, significa encarar o tempo passivamente, como se fôssemos, eu e o
tempo, velhos amigos jogando xadrez.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
“Estar” velho é sentir-se menos
jovem, é a contagem de anos pesando sobre as articulações e a ânsia dolorosa de
querer voltar no tempo. Desses males, fora a lei da impiedosa gravidade, não
sofro nenhum. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Não choro pelos perdidos ímpetos
de juventude porque jamais os perdi. Ainda invento mundos fictícios e brinco com
amigos imaginários, ainda visto-me de personagens e personalidades e sou
qualquer coisa e qualquer um. Posso ser o que quiser ser, e o sou na
integralidade da minha ficção. Isso inclui os arroubos de aventura, obviamente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Quanto aos sonhos megalômanos de
um futuro esplêndido, já os vivi a todos. Sim, realizei-os e ainda os realizo
diariamente. Meu futuro sonhado, há tempos é o meu presente, minha realidade.
Talvez eu tenha sonhado pouco. Mas garanto que sonhei o suficiente!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Alguns exemplos? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Um dia eu sonhei ser romancista:
meu primeiro romance foi publicado em 2012. Já foram três a público e ando
trabalhando em mais alguns. Um dia quis fazer cinema: tenho seis prêmios na
estante (junto com meus livros). Um dia sonhei ser mãe: minha criança tem 8
anos e é minha criação mais perfeita. Um dia sonhei viver de escrita: sou
escritora profissional há uma década (sim, isso é possível!). Estudei magia,
formei autores, tive alunos, toquei instrumentos (ainda que muito mal).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Tudo isso eu fiz e sigo fazendo. Não
descarto a possibilidade de mais alguma conquista. Mas, não, não tenho mais
nenhum mega ideal. Realizei-os um a um. E todos os desejos que ainda vierem, eu
os realizarei. Não tenho qualquer dúvida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Minha vida me deu conteúdo,
experiência, a certeza de que posso sorrir e administrar com cuidado e leveza tudo
isso que fiz. E, sim, essa é uma consciência velha. Da velha que sabe que o
futuro só importa a quem não é pleno no hoje. Da velha que viveu anos
gloriosos, amores imensos e crises catastróficas (e, creiam, muito disso tudo ainda
há para viver).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Por tudo que vivi, afirmo e concordo:
sou velha! Sei que esse parece o discurso de alguém com 82 anos, não com 42. Sei
que me autoafirmo (jamais disse que era perfeita!). E sei bem que a maioria dos
jovens – e dos que estão velhos – discordará de tudo o que eu digo aqui. É a
vida, não discuto (mais) a opinião alheia. <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
Para quem me mandou tão sábio
recado, eu agradeço de coração e retribuo com um “velho” conselho: pare de se
preocupar tanto comigo e faça o que eu fiz. Vá viver!<o:p></o:p></div>
</div>
Giselle Jacqueshttp://www.blogger.com/profile/01802271450116822930noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7921902383566555688.post-79940505314036798262015-09-05T00:41:00.001-03:002015-09-05T00:51:35.766-03:00Meu Novo Amor<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Meu novo amor deve ter cabelos escuros e olhos intensos.
Deve olhar-me como quem contempla uma obra de arte renascentista. Deve ostentar
aquele brilho que só para mim será visível. Deve ver além de mim, de meu corpo,
minha alma.<o:p></o:p></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Não lhe abro mão da boca bem desenhada, de sorriso fácil e
covinhas que a barba esconde. Esse novo amor deve dizer nos lábios sem palavras
a plenitude de seus sentires. E sonhar em suspiros, arfar em ânsias, resfolegar
quereres. Ah, sim, e não menosprezar Caetano.<o:p></o:p></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Meu novo amor não deve ter cor nem credo. Crendices à parte,
devo ser eu sua divindade. A face da deusa em meu próprio rosto e dele a seiva
que gera a si mesmo em deus consorte. Que a lenda do inverno e da colheita se
unam num mesmo sacrifício. Nosso sacrifício, morrendo-nos nos braços um do
outro.<o:p></o:p></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Meu novo amor há de ser sereno, carinhoso e terno. Há de ser
selvagem, vigoroso, eterno. Há de ser, esse meu novo amor, reflexo de Marte e
Mercúrio. Médico dos males de meu espírito, resguardo tumular de meu futuro.<o:p></o:p></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Há de ser o braço forte, musculoso, a amparar minha queda.
Há de ser o peito afetuoso, protetor do meu descanso. E eu hei de deitar a
testa em seu ombro e esquece de fato dos fardos do universo. Eu que serei
noiva, rainha, serva. Eu que serei dele somente e por completo.<o:p></o:p></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Meu novo amor deve ser meu amigo, meu repouso, minha morada.
Deve ter a mente aberta e a racionalidade intacta. Deve ser, acima de tudo, um
homem sensato. Para que meus desvarios e minhas máculas não o contaminem, para
que meus desamores não o desamem. Para que meu passado não o interesse.<o:p></o:p></div>
</div>
<br />
<div class="MsoNormal">
Meu novo amor, enfim, deve ser belo e franco, sucinto e melancólico.
Deve ter doeres e ardores. Deve ser meu além e meu agora. E eu devo ser dele a
aurora de uma nova paixão. E, mais do que tudo, meu novo amor deve ser meu
todo, meu meio, minha metade. Deve ser apenas e tão somente meu!</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
Giselle Jacqueshttp://www.blogger.com/profile/01802271450116822930noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7921902383566555688.post-71499696519643156082015-05-17T17:05:00.001-03:002015-05-17T17:16:53.047-03:00Ciúmes<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Vi um pequeno lampejo de ciúmes
nos olhos dele. Ganhei o dia, o mês, o ano! Medíocre é a mão que alimenta o
ego. Essa fagulha insensata de soberba infinita. Mas assim é o existir humano.
E eu que sou nada mais do que dimensional... gostei!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
Vi aqueles olhos negros saírem da
zona de sombra e o sorriso trincar a face sinistra num misto de deboche e
cólera. “Quer brincar comigo?”, me dizia aquele sorriso mudo. “Tem certeza?”,
os olhos faiscantes ecoavam. “Talvez eu queira.”, respondeu meu ímpeto. Mas,
calei meus lábios.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
Nada disse que ele já não
soubesse. E o que eu disse, as entrelinhas engoliram. Eu tinha feito a Esfinge
rosnar! Isso, por si só, já era o bastante! A mente analítica lembrou do Belo
ameaçador e o uniu ao relato etéreo, literato. Fez-se a chama que incendiou o
espírito tão equilibrado.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
Pronto. O que eu via naqueles
olhos neutros era tudo, menos apatia. Ele reagia, embora as palavras comedissem.
Eu quase via a mente maquinando e a adrenalina a dar choques no plexo. Medo de me perder?
Será? Medo de um que me deixe segura? Ciúme de mim? Ciúme do que poderia ter
acontecido? Será?<br />
<br />
Será que ele não sabe que a beleza da imagem nada é diante da imensidão que ele me representa? Que um mergulho rápido na dimensão do que é belo não fere? Será que ele não sabe que a ameaça é insípida, incolor e inexistente? Ou ele é assim tão meu dono que acha, por acaso, que vai conseguir viver ser mim?!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
Sim, eu poderia brincar com ele.
Esse tão seguro, tão distante. Apesar de tudo, ele também é humano. E a sombra
do pecado ronda a mente sã. Quis melindrar, mas parei. Não arriscaria que uma dúvida
insensata banisse esse homem de mim.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E mal sabe ele que o sexo depois
foi o melhor de todos. Mal sabe ele que eu sou dele, jamais de outro. Ele não quer saber. Que
fique assim, temperando o leito essa quase dúvida infundada. Se, de vez em
quando, ele me fitar com aquele fio de lâmina nos olhos, me entregarei à
punhalada fatal. Pois é desse jeito que sei que ele é mesmo meu! </div>
Giselle Jacqueshttp://www.blogger.com/profile/01802271450116822930noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7921902383566555688.post-37708300505097985292015-04-18T01:11:00.003-03:002015-04-18T01:18:38.290-03:00Goza!<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Goza! Aproveita que o teu corpo é
tudo o que eu quero agora. Aproveita que a minha pele sua, sôfrega pela tua.
Aproveita que todos os meus sentidos te desejam além do que o desejo poderia
declarar.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Goza desse fogo que te aquece
cada poro. Deixa que esse frenesi te embote a astúcia e tu sejas apenas meu
objeto de prazer. Sejas meu enquanto tu ainda podes. Antecipa o afago leve, o
arfar crescente, o gemido escapado da garganta estreitada pelo fogo da vontade.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Deita o teu corpo sobre o meu e
deixa o peso da luxúria embalar os nossos pecados em comum. Deleita-te com
essas carícias que te dou porque sou soberba. Deixa a cobiça aplacar a ira e
tornar tua volúpia em ondas de prazer aqui dentro de mim.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Deixa que a sublimação do meu
orgasmo domine o teu orgasmo. E goza pleno de tato, sabor e ilusões dessa ótica
que só nós dois podemos ver. Goza, porque o teu gozo é a minha extravagância
mais plena. Minha batalha ganha e vencida. Porque sucumbo ao mesmo tempo que a
vitória em mim delira.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Goza. Porque no teu gozo, meu
prazer é sempre mais completo! Porque o desejo secreto de todo ser apaixonado é
a glória inenarrável de fazer quem se ama gozar!</div>
Giselle Jacqueshttp://www.blogger.com/profile/01802271450116822930noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7921902383566555688.post-6348590557067075382015-04-03T03:45:00.001-03:002015-10-01T22:58:39.474-03:00Aborto!<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Sempre que eu penso no assunto maternidade, eu, inevitavelmente,
lembro da minha mãe. E, inevitavelmente, eu penso: por que ela não me amava?
Não que ela não me amasse de fato. Mas ela não me amou como devia. Nem perto
disso.</div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ah, como se deve amar a um filho? Onde está a fórmula? Ótima
pergunta, e eu respondo. Ame, só isso. Ame sem restrições, sem imposições, ame
incondicionalmente. Mas, se você é mãe, eu não preciso dizer, pois você já faz isso
naturalmente. Já ama seu filho ou filha com TODAS as forças, mais que a você
mesma. Isso é ser mãe!</div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ser mãe é proteger, cuidar, alimentar, ensinar. Tudo isso é muito
cansativo, mas nos dá um prazer imenso. Um filho é a sublimação da vida de
qualquer mulher. Qualquer mulher que queira realmente ser humana e completa. A
maternidade nos dá sentido à vida. Se alguém disser que não, ou é homem, ou
está mentindo, ou não é mãe. </div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas, há momentos em que tudo dá errado, acontece sem querer,
sem planejar. Há momentos que nos levam a decisões que ainda não queríamos
tomar. Aquele filho que vem de um namoro sem sentido, um flerte que passou dos
limites. E o pai apenas não é um pai. Não vai ser.</div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Muitas vezes, dependendo da idade da “mãe”, essas decisões
são tomadas sem consultar a “mãe”. São separações impostas. Sim, eu sei. Era
para o meu bem, para garantir o meu futuro. E não interessava o que eu queria.
Não interessava a minha decisão. Não interessava que eu já amasse aquele bebê. Porque
a cena (incrivelmente) não era minha.</div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E aquele bebê, de repente, não era mais nada. Era pranto.
Sim, eu chorei o tempo inteiro. Chorei por horas depois. E aí, acabou... eu
estava vazia. Aquele sonho de bebê não existia mais. </div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quem fez isso? Quem cometeu esse assassinato? Eu?... Talvez
tenha sido. Apesar dos protestos, de ter sido levada à força para a clínica
clandestina, de ter dito “meu filho” tantas vezes antes... Talvez a culpa tenha
sido minha.</div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Muitos e muitos anos mais tarde, uma pessoa importante me
perguntou; “Por que isso ainda te incomoda tanto?” E eu respondi: “Porque sinto
falta dele, de quem ele poderia ter sido...”</div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Hoje, sou mãe por minha livre vontade. Sou mãe porque
escolhi ser mãe. E minha filha é amada como eu jamais fui! E, incrível, ela
também me ama! Espero ser o suporte que ela vai precisar e o amparo e o carinho
e o ninho sempre aberto, o abraço de cada dia. </div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Espero ser alguém em quem ela pode confiar, contar coisas,
pedir amor. E eu tenho esse amor para dar, esse mesmo que me foi negado, por
negligência, por incompetência, quem vai saber... Eu tenho esse amor para dar à
minha filha. Eu a amo. Ela me ama. Jamais passarei por cima da vontade dela. É
só isso.</div>
</div>
Giselle Jacqueshttp://www.blogger.com/profile/01802271450116822930noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7921902383566555688.post-41047394525060848392015-03-10T22:51:00.004-03:002015-03-10T22:52:27.904-03:00Primeira Catarse<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Estou bem. Estou sempre bem. E nunca estou bem. Na média,
ninguém nota nada. Procuro não incomodar. Chato aquele amigo chato que vive
chateando os outros, pedindo abrigo, asilo, colo, conselho. É chato. Então, não
faço. Mas, faço. Veladamente, espero que alguém note que eu preciso de alguém.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não, eu não estou mendigando romance. Nem romantizando a
atenção alheia. Fico bem sempre que posso. Hoje, não posso. Ficar bem é
relativamente incerto. Sorrio, mas não estou sorrindo. Não choro, mas estou aos
prantos. Algum lugar dentro de mim está chorando. Só não sei qual.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Se for soletrar e juntar sílabas, diria apenas que estou
triste. Penso que se parar de pensar, tudo para, tudo passa. Ao passo que o
tempo passa por cima da ausência e para essa coisa ruim na boca do estômago. O
tempo cura tudo e tudo se cura depois de um tempo. Ou quase isso.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mas, não se importe agora com o meu hoje, porque amanhã
serei eu como sempre. E sorrirei sem estar sorrindo. E você não verá as
lágrimas que não choro. Apenas deixe passar. Porque sempre, sempre passa. Até
amanhã.</div>
Giselle Jacqueshttp://www.blogger.com/profile/01802271450116822930noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7921902383566555688.post-70496394227814578032015-02-25T19:32:00.002-03:002015-02-26T07:33:12.376-03:00Crônica sobre mim mesma!<div class="MsoNormal">
Passei dos 40 anos. Passei direto, fiz muito. Foram quatro
décadas intensas, creiam. Ganhei prêmios de cinema, criei campanhas
publicitárias internacionais, escrevi romances que fizeram chorar.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sim, eu me fiz viver nesses mais de 40 anos. Mais... Não
ouse perguntar quantos mais!!! Uma dama nunca revela a idade. Mas, já que não
sou nenhuma dama, exponho os fatos pra que quiser saber!</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Nasci em épocas de regime militar. A sombra da polícia da
repressão pairando sobre mim. Obviamente, eu me tornaria revolucionária. Outra
sombra que me pairava era a da alienação. Obviamente, eu me tornaria engajada.
Vocês recriminam?</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Nunca fui pobre, no sentido literal. Se eu queria aquilo,
ganhava dois... Mimada? Nunca! Sei o valor real e subliminar de uma calça
jeans. Meus pais nunca tiveram essa conscientização. Nunca conquistaram a
liberdade plena de expressão. Pena deles...</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Quando me vi gente, a ditadura havia acabado. E loucos de
cabelos espetados gritavam “Boys don’t cry”... Eu não sou boy, jamais fui...
então, estava liberada pra lamentar. E foi nessa febre de rock e liberdade que
me tornei eu mesma.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não digo que as dores da geração anterior não tenham me afetado. Errei muito enquanto segui os preceitos dos genitores. Mais
do que gostaria de lembrar. Mas esse erro era deles, não meu. Fui eu quem
sofreu a consequências, mas a desilusão foi só deles. Estou em paz quanto a
isso.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Hoje, tantas décadas depois de tudo isso, vejo minha filha
livre. Garanto essa liberdade dela com a minha própria consciência em penhor. E
sou livre, ela será livre. Livre de quê? De amarras morais e travas sociais inúteis.
Ela será feliz.</div>
<br />
<div class="MsoNormal">
Eu? Eu sou feliz! Realizei tudo o que sonhei, fiz tudo o que
quis, beijei quase todas as bocas que desejei... Quase todas! Hoje em dia, você
pode achar que quero apenas paz e sossego. E eu ouso rir disso. Mais do que nunca, quero o que ainda não foi conquistado. Ou você duvida que eu, logo eu, consiga!<br />
<br /></div>
Giselle Jacqueshttp://www.blogger.com/profile/01802271450116822930noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7921902383566555688.post-43557462177506518502015-02-21T15:44:00.003-02:002015-02-21T16:05:44.221-02:00Meio que eu<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eu meio que perdi a rédea. Eu
meio que perdi a pressa. Eu meio que perdi tempo. Talvez tenha perdido o foco,
tenha perdido o ócio, tenha perdido o rumo. Sei que me perdi na reta, perdia
rua, perdi a meta. Perdi o centro, perdi o momento, perdi o ponto.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E lá estava eu, perdida por
completo no vazio imenso que há dentro de mim. Ao meu redor nenhuma culpa,
nenhum propósito, meio que nenhuma vida também. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O nada em silêncio meio que confunde as
ideias. Mas eu já não tinha ideias pra confundir. O movimento no vácuo nem é
notado. Só que nada se mexe mesmo por lá...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quase gosto desse ostracismo, dessa
letargia serena, dessa não atividade compulsória. Quase me acostumo. Mas a
monotonia não faz casa na alma. E essa alma eu meio que não perco nunca. É meio que uma
sina.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E assim...</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eu meio que perdi o medo. Eu meio
que perdi a vergonha. E meio que perdi o sono. E Talvez tenha ganhado o sonho, tenha
encontrado a porta, tenha voltado a mim. Sei que perdi a trava, retomei o
passo, resgatei o ímpeto. Sei que não sei perder. Nem gosto tanto assim de
silêncios. Ainda estou aqui! Ainda sou meio que eu.</div>
Giselle Jacqueshttp://www.blogger.com/profile/01802271450116822930noreply@blogger.com0