A Estranha
Vejo uma foto minha e não me reconheço. Quem é essa mulher de rosto cansado, tão diferente da imagem que tenho de mim em minha mente? Noto cada ruga e cada marca, a pele sem viço, o olhar triste. Não, essa realmente não sou eu. É até bonita, consigo ver traços de uma beleza abatida, mas não é a minha imagem na foto. Corro ao espelho, esse escondido do lado de dentro da porta do armário. Olho-me atentamente de frente. Essa do espelho e a da foto se parecem, mas também são tão distintas. Entre uma e outra, passagens desses anos todos me voltam à memória. Quadros estáticos ou cenas específicas. E me pego divagando sobre como formei essa estampa tão irreal de mim mesma. Em qual delas devo acreditar? Essa que olha para baixo, tristemente, é a que as pessoas veem, ou será a fúria de olhar agressivo do espelho? Posso arriscar, não é a jovem rebelde e sensual que guardo na mente. Essa, nem tenho bem certeza se realmente existiu algum dia. Minha predileção pelo ficcional deve tê-la