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Mostrando postagens de agosto, 2014

O Gostar-se

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Noite. Calma. Harmonicamente, minha consciência desliza por sobre a pele que é minha, meu véu, meu corpo... Intensa, etérea, sinto-me em pleno existir. Estou aqui. Sou dona de mim mesma. Quem me visse, acharia fácil esse interesse adquirido por minha própria pessoa, esse gostar íntimo. Fácil apegar-se à personalidade, aos arroubos de melodrama, aos afãs quase insensatos de criatividade, de soberba. Não saberia, esse que observa, que cada passo até o topo foi em dor, em fogo, em pranto. Não encontraria em meu rosto qualquer marca de denúncia do flagelo, qualquer cicatriz. Não acharia motivo de tristeza, mas ele existe. Ou existiu, ao longo dos feitos gloriosos que represento agora, hoje. Quem espia apenas pela fresta do brilho jamais verá a verdadeira face da tragédia, ou mesmo os grilhões rompidos sob extremo esforço. Não conhecerá a face da fera que doutrinei e domei sem matar. Essa luta foi só minha e me lembro dela, de tudo, todos os dias. Lentamente, o cadafals

Coração Pirata

Uma música ouvida durante anos e anos... e, de repente você se toca que ela não significa exatamente o que diz. Resultado e significado são grandezas díspares. E você entende que ouvia o que queria ouvir, que existia sonoramente numa redoma cristalina de autoexultação, de utopia. Um bom exemplo disso são esses quatro versos tão fortes, embalados por vozes canoras. Essa música em especial diz exatamente assim: “Faço porque quero! Estou sempre com a razão! Eu jamais me desespero! Sou dono do meu coração!” Quatro mentiras confortáveis, nada mais que isso. Fazer porque se quer – qualquer coisa – é a máxima do poder da juventude. No melhor estilo “eu sou o rei do mundo”, “eu posso tudo”. Amadurecer é também a compreensão de que isso é impossível. As coisas que fazemos, as fazemos por dever, por obrigação, pela vida – a nossa e a de outros. Claro que há escolhas, mas elas são turvas, nunca realmente nossas. Nunca dependem apenas da nossa vontade. Estar sempre com a razão é u

Sacrifício

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Tempo de perder, de desfazer-se. Tempo de deixar ir. Desistir, como dizia Caio, é ainda assim um gesto de coragem. Ou de puro desacato ao ego. Que seja... há de existir para sempre e em cada sempre o derradeiro momento da partida. Partir-se ao meio, rasgar-se para que aquele peso chamado esperança saia do peito sem que possamos impedir. O tempo da utopia já passou. É preciso sacrificar algo. Que seja o orgulho a ser jogado no fosso. Que seja a soberba o pecado a ser santificado pelo fogo da expiação. A força - tanta força, tanto esforço - de nada serve. A forca nada mais é do que um pedaço inerte de corda. O pescoço apertado nela é o que importa. O tempo é de desapego, de entrega. Tempos de morte. Necessário contradizer a insensatez, imprescindível dar ouvidos ao destino, ao fato inevitável, ao fracasso. Ceder ao poder do que é mais forte que nós, maior que nossa vontade, que nosso sonhar tão errante e alucinadamente lúdico. Esse que acredita em fadas, em milagres, em livr