Monólogos
Eu ando triste. Apesar de tudo em seu lugar, ando triste. Apesar da cadência controlada dos dias e dos rituais domésticos e suas competências bem estruturadas, ando triste. E na busca desesperada por conforto, recolho-me aos pensamentos, aos devaneios que me afastam da realidade asfixiante. Me invento. Em minha mente torpe, tudo é possível, tudo viável. Nesta em que me moldo tão abruptamente, não vejo a máscara que me assombra do espelho. Tornei-me, no mundo real, uma desfigurada, meu rosto é uma carranca entalhada em carvalho decrépito, com a ruga constante de preocupação fazendo encontrar as sobrancelhas. Não gosto da imagem, é feia. Por isso, fecho os olhos quando quero ver a mim. E no meu mundo imaginário sou livre, sou bela e sorridente. No delírio do abraço e da paixão, sou amada e toda a solidão que me rodeia não existe. Simples como aconchegar-se a um cobertor num dia frio, simples como ler um livro – sim, eu gosto de Djavan! –, faço-me aquela que quero ser. E embalo-m