Tem horas
Tem horas que eu queria só um peito para recostar a fronte.
Poder pender meus terrores ao conforto do pulsar de outro coração. Fechar meus
olhos e ter a testa amparada por outra força, outra posse, outra coragem. E
ancorar, nem que por um ínfimo segundo, no porto seguro além de mim mesma.
Tem horas que eu adoraria a mão alheia espalmada num afago
em meu rosto, um carinho simples, fugaz, descompromissado. Deixar suspiros escaparem
aliviando a pressão. Ter somente a leveza do toque a sustentar essa alma
cansada que tanto pesa, que tanto pena, que escora o fardo que sou eu.
Tem horas que eu daria tudo por um olhar intenso e
silencioso. Pelo privilégio de poder ver-me em outras retinas, dessas que me
enxergassem inteira. Que me vissem sem máscaras, sem máculas, sem roupa. Um
olhar que me dissesse tudo e me fizesse todas as juras. Que jurasse me assistir
além de mim.
Tem horas que eu me contentaria com o sorriso, o colo, o
abraço. Eu me satisfaria facilmente com qualquer minúscula tentativa de afeto,
de achego, de abrigo. Eu seria feliz com qualquer contato, qualquer apreço, qualquer
beijo. Seria menos eu por um instante e faria de mim esse nada necessário para
recomeçar.
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