Pra que título???
Por vezes, o ímpeto de escrever se sobrevem ao ato de respirar. A ânsia cresce, vertiginosa, nascendo na boca do estômago e transbordando em direção à garganta. Então, entopem-se olhos e ouvidos, até que a mente inteira seja arrebatada pela avalanche.
Mas, daí para as mãos... Como lava que escapa das profundezas da terra, as palavras vêm. Mas não brotam, engolidas por um nada que esfria o magma e o torna rígido como diamante. Nada passa. Da mente para as mãos, um caminho interrompido. Se antes um afluente natural, cadência correta e veloz, agora águas mortas de uma represa sem comportas. Mar Negro de um subconsciente trancado. Águas salgadas demais para qualquer vida. E as palavras morrem antes de alcançarem as pontas dos dedos.
Frustração de tentativas esparsas, angústia de dizer sem saber o quê. Agora que me liberto de paredes invisíveis, onde está minha arte? Agora que cruzo o véu, que rasgo em mim uma passagem, onde está minha arte?
Em que parte do caminho tropecei e deixei cair as palavras? As ideias, essas sim, brotam como mato. Mas, saberei ainda executá-las? Turbilhão incontrolável de devaneios. Emoções tão intensas como o próprio nascimento. E, então, a morte. Uma morte dolorida e vazia nas pontas de dedos sem expressão.
Quando chegam às mãos, as ideias já não parecem tão boas, já não têm a mesma fome de virar palavras, já não inspiram o esforço, não existem mais.
Não posso dizer que perdi a inspiração, pois é a transpiração que me falta. Inspirada eu sou por natureza. Mas falta a força de seguir pela trilha aberta. Falta o jorro do vulcão.
Cada vez que vejo, cada vez que leio, cada pequeno fragmento, tudo isso se vira em delírios, inspirações, palpitações. E no frenesi de botá-los pra fora, tudo se perde. Tudo escapa por uma fenda, uma brecha que ainda não consigo encontrar.
Eu ainda sei escrever. Talvez, eu não saiba mais criar.
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