Minha Coleção


Sou uma rastreadora de almas. É o que sou. As que me interessam, detenho. Perguntam-me com frequência como pode alguém não gostar de gente. Não é que eu não as aprecie, as pessoas. É que, para mim, pessoas são objetos colecionáveis. Eu analiso, observo, absorvo. Coleciono personalidades. Sim, eu as guardo para mim. Cada ser pensante do qual me aproximo, convivo, dá-me de presente uma parte de si mesmo. Nem sempre a melhor parte, admito. Às vezes, levo comigo seu lado mais vil, seu aspecto mais maquiavélico. Mas, mesmo assim, deleita-me aquela nova e saborosa refeição. Devoro trejeitos. Alimento-me de conceitos e filosofias. Cada qual com seus maneirismos e linguajares, cada um com sua forma original. É por isso que crias tantos personagens? perguntam. Não! Meus personagens são partes de mim mesma, do meu mais profundo eu. As personalidades que coleciono, trago-as apenas para descartá-las no fundo da gaveta da memória, podendo vesti-las, caso isso me agrade. Mas, nunca agrada. Prefiro minha própria pele. Aprendo, sim, com elas. Com seus defeitos mais que com as virtudes. E virtudes, quem as tem de fato? Os errantes? Os ordinários? Os colecionadores? Quem saberá...

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