Medo de Quê?

Já escrevi sobre o medo antes. Parece um tema recorrente. Será que ainda não me livrei de todos? Certo, é uma pergunta retórica. Contudo, também é uma mentira. Não vim falar de medo, vim falar do oposto dele. Qual é o contrário de medo? Não, não é coragem. Coragem é aquilo que a gente usa pra ir adiante, pra tomar a frente, um rumo. Mas... e quando chegamos lá? Como se chama o sentimento quando tudo pelo que lutamos começa, finalmente, a acontecer? Devagar, bem lentamente, as peças vão se encaixando, a figura tomando forma sobre a mesa. Schopenhauer (adoro ele!) diz que “a glória deve ser conquistada; a honra, por sua vez, basta que não seja perdida”.

Honra e glória, as duas palavras que movem o mundo. Mente quem diz que solidariedade e altruísmo são mais importantes. Socialmente, são mais relevantes. Todavia, não conheço ninguém que não goste ou não se aproveite da fama. Mesmo os ermitões mais reclusos em suas cavernas úmidas aproveitam-se da publicidade a respeito deles para continuarem cada vez mais misteriosos. Estou mentindo?

Analisando, todavia, a sensação da conquista é assustadoramente semelhante ao medo. Principalmente se o objetivo conquistado demorou demais sendo alvo de tragédias e batalhas. Parece mesmo que perdemos algo quando o conquistamos. Ficamos tão habituados ao jogo de tentativa e erro que, quando acertamos o alvo, uma parte de nosso ser se torna inútil, sem propósito. A parte aquela que chamamos de coragem. Já não precisamos dela. Pelo menos, não tanto. Continuo mentindo? Sou um prato cheio para psicólogos, eu sei. Quem tem medo de ser aquilo que lutou para ser?

Não, isso não é um mea culpa ou um “senhoras e senhores, agradeço o prêmio, mas devo declinar da honra”. Ao contrário, a honra é toda minha. E é mesmo! Minha e de cada um de nós que batalhou anos a fio por qualquer coisa que seja. Que deu sangue, suor e sono por um objetivo. Que perdeu muito antes de poder ganhar. E é exatamente esse “perder muito” durante o processo de conquista que faz com que a glória seja menos proveitosa. Na verdade, não sei como devo me sentir diante desse vislumbre de honra e glória.

O homem que eu amo me disse, dia desses, que “o pior é nós termos ainda que pagar pela nossa arte”. É a frase que resume os milênios de luta. Depois de tudo, ainda estamos tentando. Nunca desistimos, nunca nos omitimos, somos guerreiros de nossa causa!

E, um belo dia, vencemos, conquistamos. Mesmo que uma pequena parte, mesmo uma moedinha de ouro que antecipa o tesouro. Conseguimos! Estou feliz? Sim! Radiante, devo dizer, pelo pouco que representa tanto. Mas, eu tenho que perguntar: e o que eu faço agora?

Comentários

Marcio Rufino disse…
Adorei conhecer seu blog. Sou seu companheiro no Benfazeja. O seu texto que eu mais me identifiquei foi o In(exata)Existência. Tem tudo a ver com o nosso ofício na Internet. às vezes me sinto assim uma carta dentro de uma garrafa atirada ao alto-mar. Queria te convidar a visita meu canto http://emaranhadorufiniano.blogspot.com
Seus comentários serao muito bem vindos.
Bjs!!!

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