O LIVRO DE ELI - A real necessidade de Deus
Decidi escrever este texto porque estou indignada. Não levem, em todo caso, meu estado de raiva em consideração. Sou antirreligião, todos os que me conhecem, sabem. Contudo, pretendo versar sobre o filme O Livro de Eli e seu conteúdo massificador e estereotipado. Não gosto de estereótipos. Toda generalização é perniciosa e preconceituosa. Por quê? Porque é uma generalização. E seres humanos não podem e não devem ser generalizados. Somos todos únicos. Isso basta!
Eli, Eli, Lama Sabactani? Ou seja, Deus, meu Deus, porque me abandonaste?
O Livro de Eli nada mais é do que a Bíblia dita sagrada. Não é sem querer que o nome do personagem de Denzel Washington é “Eli”, que significa “Deus” em aramaico, a língua de Cristo na Palestina do século I (acredita-se). O filme é um guia, um manifesto. A terceira guerra nuclear, teoricamente, teria começado por culpa de um livro onde as “verdades” estariam escritas. Por isso, o tal livro foi queimado nos cinco continentes quando, na Terra, só restavam farrapos da civilização. Entretanto – e sempre tem um entretanto –, um homem recebe um “chamado divino”, salvando a última Bíblia impressa e recebendo a missão de resguardar seu conteúdo, levando-a em segurança até uma tal comunidade onde seu ensinamento será preservado para as futuras gerações.
Eli, Eli, Lama Sabactani? Ou seja, Deus, meu Deus, porque me abandonaste?
O Livro de Eli nada mais é do que a Bíblia dita sagrada. Não é sem querer que o nome do personagem de Denzel Washington é “Eli”, que significa “Deus” em aramaico, a língua de Cristo na Palestina do século I (acredita-se). O filme é um guia, um manifesto. A terceira guerra nuclear, teoricamente, teria começado por culpa de um livro onde as “verdades” estariam escritas. Por isso, o tal livro foi queimado nos cinco continentes quando, na Terra, só restavam farrapos da civilização. Entretanto – e sempre tem um entretanto –, um homem recebe um “chamado divino”, salvando a última Bíblia impressa e recebendo a missão de resguardar seu conteúdo, levando-a em segurança até uma tal comunidade onde seu ensinamento será preservado para as futuras gerações.
Certo, consideremos. A fotografia é belíssima, altamente contrastada e num tom de cinza avermelhado sublime. A atuação do protagonista é sempre a mesma – bom nível desde Philadelphia. Planos bem cortados e mesclando efeitos digitais sutis, bem incorporados, como quando a câmera “sai” de dentro do carro, passando por uma grade e sobe até um plano geral da perseguição no deserto. Ok. Os irmãos Allen e Albert Hughes sabem decupar um roteiro e dirigir um filme de ação intimista.
Mas – e sempre tem um mas –, o roteiro não me convenceu. O mundo caótico precisa da Bíblia para conseguir ser humano?... A civilização, depois de 30 anos de holocausto nuclear (e tem as crateras das bombas no filme), precisam da “palavra de Deus” para se tornarem realmente civilizadas?... Um homem que leva três tiros e não morre (porque tem proteção divina – milagre!) é o guardião do mais sagrado dos tesouros?... É ele quem alcança um lugar escondido, onde (miraculosamente) tem um tipógrafo em funcionamento e, de memória, porque já não tem o livro, recita-o antes de morrer, versículo por versículo?... Isso tudo depois de 30 anos de peregrinação para chegar até Nova Iorque?...
Chega de considerações! A meu ver, o roteiro nada mais é do que uma tentativa patética de evangelização. O mundo, mesmo no caos, precisa do conforto de Deus! E é bem claro no filme que a Bíblia em questão é católica, pois as poucas citações em voz alta remetem a essa versão do dito “livro sagrado”. Se ninguém ainda se deu conta, as versões católica, evangélica, protestante (etc.) da Bíblia são diferente. Por exemplo, na versão apostólica romana do conhecido salmo 23, diz-se “ainda que eu ande pelo vale das sombras da morte, nada temerei, porque Deus está comigo”. Na versão espiritualista diz-se “ainda que eu ande pelo vale das sombras da morte, nada temerei, porque Deus está em mim”.
Sutil, mas absolutamente diferente. Uma diz “Deus me ampara”, a outra diz “Deus sou eu”. O que quero dizer com essa explanação é que poucos no mundo se dão conta que Deus é uma ficção criada pelas várias igrejas das quais dispomos. Deus é uma bengala, alguém para se jogar a culpa por tudo. É assim desde a Fenícia, desde as florestas do norte, onde se cultuava sol e lua como divindades. Hoje, um filme teve a coragem de me dizer “Deus é a solução para o caos”. Incrível, pois esse Deus humanizado sempre foi, isso sim, o “motivo para o caos”. Preciso falar de Guerras Santas e Inquisição? Acho que não.
Um filme de Hollywood, indicado ao Oscar, deve dar-se ao respeito. Não tente doutrinar os gentios, não tente submeter os patrícios. Deus não está numa Bíblia, seja ela de que religião for. Deus não dispõe do poder de curar o mundo. O mundo quem faz, corrompe e cura somos nós, seres humanos. Não tente me cristianizar e transformar em um filme de ação dramática a proposta de que eu preciso de um livro escrito por homens não melhores do que eu para encontrar a divindade suprema. Se Deus habita em algum lugar, é dentro de mim, minha alma, meu cérebro. E eu tenho plenos poderes, plenos argumentos (livre arbítrio, costumam chamar) para encarar o caos ao meu redor. Muito obrigada!
Achei o filme uma tentativa frustrada de dizer que o Deus padronizado é o melhor para cada um. Que basta buscar a “palavra” e segui-la para combater o mal pessoal. Confesso que, bem antes do final do filme, eu já me sentia participando de um culto da Deus é Amor... Que me perdoem os crentes, mas, em certos casos, ceticismo é fundamental! E a análise cinematográfica é um desses casos.
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