À Distância
Ela nas teclas, ele no monitor. Ela correndo dedos e estalando cliques, derrubando palavras inspiradas em textos métricos. Ele a tecer comentários cáusticos, afogueados, sobre tudo quanto lia. Ela a escrever, ele a palpitar. O blog se enchendo a cada dia de torrentes de pensamentos e pedaços de emoção. Cada um de um lado da conexão, a experimentar o imaginário do outro. Ela esperava por ele depois da cada post. Ele esperava por ela depois de cada ponto final. E o mais incrível é que ela sabia, ele não. Ele nem desconfiava, sequer de uma mínima migalha daquela verdade. A verdade era só dela. Ele apenas apreciava, compartilhava, comentava. Ele interagia com o texto. Ela interagia com ele. Ingênuo, ele jamais perceberia que tudo aquilo, toda a mescla de sentimentos e inteligência de que gostava tanto, ela criava para ele.
Comentários
Cada um em um canto em semelhantes composições.
Ela dizia e ele lia. Fumando. Ela pensava, ele sabia o que ela esperava. Ela fumava, ele fumava. Ele entendia e sentia, ela adiantava o ponto final. Ele desconfiava. Ela não sabia, mas ele sabia. Ela fumava. Ele fumava.