A Luta
Depressãozinha batendo leve. Chegando como a chuva fininha que cai lá fora nesse fim de tarde que não é verão nem outono. Não é tristeza, não é fossa, não é ausência. É aquela velha sensação de acabar. A sensação de cansaço, de ciclo repetido, de velhice precoce, de enfado. Os dias seguindo em frente e eu a me repetir sempre. Sempre na busca daquele algo que não acontece, que não desabrocha, que não vive.
O engraçado de tudo é que, dia desses, estava eu dando conselhos incentivadores a um amigo que sofria dessa mesma depressão. Um jovem, com todas as forças em dia, com todo o talento debaixo da pele. Dizia eu “espera, isso passa”. Dizia eu “calma, você vai conseguir”. Agora não sei se fui honesta. Deveria dizer-lhe “desiste, não há chance pra gente como nós”. Deveria dizer-lhe “busca outra coisa mais branda, larga o sonho, que esse sonho dói”.
Esse sonho é mágoa latejante, pronta para ser chorada a qualquer canto. E tanto o sonhamos, por tanto tempo, que ele gasta. Torna-se pesadelo recorrente, vício. A luta que se luta por anos sem vitória acaba virando prisão, tormenta, depressão. Batalhas suadas para o mesmo fim. E no fim, nada. Aprontem-se para a batalha, novamente.
Um dia, isso cansa. E quando se torna cansaço, perde o viço, perde o brilho. E só continuamos lutando porque não sabemos fazer mais nada. O gosto acaba, a cor desbota. Triste sonho lutado que não vinga jamais. E só seguimos sonhando pelo medo de morrer sem sonhos.
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