Ouvi uma música, a mesma que ouvi uma década atrás. Era a mesma música, mas soou diferente. Dez anos depois. Dez anos luz daquela imagem, aquela outra eu. Tempo e espaço que se contraem, que se expandem. Física quântica no espelho da memória, no espelho da parede. Há dez anos, quando ouvia essa música, eu era a música, ela era minha. Hoje, dez anos depois, não me reconheço na letra, não me reconheço em mim. Antes – e esse antes foi ontem –, eu era tudo, podia tudo, podia todos, o mundo era meu. E, nesse ontem, eu simplesmente estava! Agora, onde está tudo, onde foram todos? Para onde fui? Ontem eu era longas unhas vermelhas. Eu era cabelos de fogo. Eu era a fúria! Hoje, o furor se perdeu. Cabelos e unhas. Sou harpia. Ontem eu era lava desmanchando pedras, homens, teoremas. Agora... esfriei, endureci? Há dez anos, eu sabia. Hoje, eu vacilo. O que aconteceu comigo? Tornei-me vinagre em vez de vinho? Envelheci tão depressa que já não me encontro no espelho ou na música. E o que, ont