Descobri que Não Preciso Mais de Homem

– Descobri que não preciso mais de homem! – disse estridentemente Teresinha para sua vizinha, Abigail, enquanto lhe servia uma xícara de chá na sala de casa.
– Como assim, comadre? – quis saber a outra, xícara tremendo na mão – Todas precisamos de um macho de vez em quando. Mesmo que pra trocar a lâmpada do quartinho, que tem teto alto.
– Pois é o que eu lhe digo, comadre. Não preciso mais. E não estou falando de lâmpadas. Muito menos de quartinhos!
– Teresinha, minha amiga, me explique isso! – implorou Abigail, ainda com o chá por beber.
Uma pigarreada mais tarde, Teresinha lança para a amiga um olhar lânguido. A boca pintada de pink quase sorri antes da confissão.
– Gozei ontem. Pela primeira vez.
Abigail faz um tremendo esforço para não derramar o chá. Equilibra a xícara habilmente enquanto tenta formular as frases com alguma coerência.
– Que é isso, comadre? Que linguajar... Não é do seu feitio.
– Pois, agora é, comadre. Falo sim. Falo em gozo. Orgasmo, sabe? Já teve? Se já teve, sabe!
– É. Pois então... Sou casada, você sabe.
– Coisa pouco confiável. Eu também era. Você sabe.
– É, eu sei – disse Abigail dando um gole no chá.
– E então? – insistiu Teresinha, o sorrisinho no canto da boca abatonzada. Abigail nunca a vira usando batom antes.
– Então o quê?
– Já teve um orgasmo? Já gozou, comadre? Com um homem?
A vizinha até abriu a boca, mas o som não saiu. Ficou assim, parada no ar, os olhos muito covardes quase ao ponto das lágrimas. Por fim, falou, muito ressentida.
– Isso lá é coisa que se pergunte a uma mulher de bem?
– Eu sabia! – a gargalhada indiscreta de Teresinha foi o arremate – Nunca gozou, não é, comadre? Não se apoquente, é normal.
– Ora, pois não sei o porquê dessa conversa – disse Abigail, irritada, largando a xícara de chá sobre a mesa. – Tudo bem que somos amigas, mas tudo tem seu limite.
Fez menção de levantar para ir embora. Teresinha renovou aquele sorrisinho rosa pink e recostou na cadeira, calmamente.
– E vai embora assim, comadre? Não seja carola, Abigail. Não quer nem saber como eu consegui? Não está curiosa?
– Na certa se enroscou com um desses malandros – atirou a vizinha sem encarar a amiga. – Mulher largada dá nisso.
– Ora, mas se te disse a minutos que não preciso mais de homem... como pode ser?
Abigail, bolsa já no ombro, parou para encaixar as frases. Pensou um pouco, voltou, sentou. Apanhou o chá já morno e deu um gole.
– Ta bom. Me conte.
Solenemente, Teresinha se ergueu e deixou a sala. Voltou tão logo, trazendo nas mãos algo que quase fez Abigail benzer-se com o sinal da cruz. Aquela coisa era grande e rosada, quase de verdade, impressionantemente realista. A voz empolgada de Teresinha entrava pelos ouvidos de Abigail e se instalava em alguma parte oculta da memória. A narrativa detalhada. Explicativa. Quase uma aula. E os olhos apavorados da vizinha não desgrudavam da coisa.
– Isso aí também troca lâmpadas? – perguntou Abigail aparvalhada depois da palestra.
– Lâmpadas?
– É... sabe? Do quartinho.
– Ai, amiga. Compre uma escada.
Quando, naquela noite, o marido de Abigail chegou em casa, encontrou o prato sem janta, sua mala feita, uma escada aberta no meio da sala e sua mulher tranquila, fumando seu primeiro cigarro. A boca pintada de rosa.

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