O Instante
Rápida é a onda de calor que chega
sem aviso, como vento solar: linda, cálida e mortal. Rápida é a sensação de
plenitude, daquelas maravilhas da natureza que fazem prender a respiração na
antecipação do orgasmo. Rápida é a faísca que ilumina o dia e cobre de cores a
mais tétrica sombra. Rápida e destruidora.
Segundo imperceptível, é o necessário.
Nada mais do que o pequeno instante da perfeição. E a mente embota, o coração
emudece, a alma brilha. Mas, é tudo só por um segundo.
Rápido, o mundo torna a seu preto
e branco típico, morno, amorfo. Rápido como relâmpago que some dentro da nuvem.
E volta a chover. Nada de calor, de plenitude, de faísca. Rápido demais.
Século interminável aquele
retumbar guardado no peito. E tudo passa no segundo desastroso, no instante que
já se acabou. Resta a mente a censurar, o coração que sangra, a alma a recolher
os cacos do espelho estilhaçado.
Resta doer-se, restam as lágrimas.
Resta curvar os ombros e baixar o ego. Resta bastar-se, pois o instante passou.
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