Conto de Fadas?
E ela descobriu que o amor de sua
vida estava namorando. Falaram por tenros vinte minutos ao celular. Ele parecia
muito mais maduro, mais centrado. A voz mais solta, mais serena. Tinham-se
visto por algumas horas em um evento dez dias antes. E ele já dava sinais de
mudanças profundas.
Mais magro, mais sorridente – ele
que não sorria quase nunca –, mais descolado. Dono de si o suficiente para
cruzar o salão e ir dizer um “olá” ao passado. E voltar ileso, confiante. Deslizava
em vez de andar.
Ela notou, óbvio. Mas os joelhos
tremiam tanto cada vez que ele colava o corpo no dela, que nada mais na mente
havia senão aquele rosto, aquele cheiro. E notou algo mais. Sua reação quando
ele surgiu foi inimaginável. Sentiu-se uma adolescente boba ao saltitar ao
redor dele. Idolatrá-lo.
Ele notou, óbvio. E como sempre
acontecia, cedeu um pouco mais. Ele sempre se dava um pouquinho a mais a cada
encontro. E foi justamente dessa vez que os lábios se encontraram. Tímidos,
contidos. Um selinho bobo. O beijo que ela esperava há tanto tempo...
E depois, ele sumiu. Disse tchau.
Desapareceu na noite. Dez dias mais tarde, o telefonema. Era quase outra
pessoa, tão mais solto, tão mais feliz.
– Gostei tanto de te ver no
evento – disse ela.
– Também gostei. Mas queria ter
ido com uma pessoa.
– Pessoa? Tá namorando?
– Quase isso – ele respondeu, um leve
riso na voz.
E ela perguntou e ele respondeu.
E tudo desmoronou por um momento tão rápido, que passou sem que ele percebesse.
Ela controlou a voz e ficou feliz por ele. Ele que era seu amor mais terno. Ele
que era tudo que ela sonhava. Ele que ela sabia que jamais iria ter.
Tortura deliciosa essa de amá-lo
assim, à distância. Claro que ele sabia. Não tinham muitos segredos. Mas sabê-lo
em outros braços, em outra boca, era quase demais pra ela. Quase!
Saber dos pormenores, de outros
fatos, aí já era outra história. Amava-o além dos limites, mas não a ponto de
colocá-lo acima de si mesma. Sentia ciúmes, óbvio! E ele não parecia perceber.
Ou percebia e fazia de propósito. Menino mau.
De qualquer forma, o fato – ou o
ato – fora consumado. Restava enternecer por ele. Restava engolir toda forma de
sofrer e esperar que ele ligasse pra falar de trivialidades, do tempo, de seu
novo amor... Ela prenderia a respiração e escutaria. Afinal, era inevitável. Estaria
sempre ali quando ele a quisesse.
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