Ao Fim
Quando tudo acabou, eu ainda estava aqui. Quando os fragmentos deixaram de existir, eu ainda permanecia no mesmo momento, a observar o espaço absolutamente vazio. Tão denso quanto a própria matéria. Mas, estou me adiantando... Foi o amanhecer do último dia. Último dia. Ninguém sabia ainda. Nem eu. Ainda não. Ninguém se deu por conta. Contudo, aquele dia já começou diferente. Os madrugadores, como eu, talvez tenham percebido que os pássaros corriqueiros não cantavam acompanhando o primeiro raio de sol. Eles foram os primeiros, tão frágeis que eram. Um silêncio incomum guardava o raiar daquela manhã. Todavia, o dia não começa com o sol. Antes ainda, a madrugada foi quieta. Os notívagos que, como eu, voltaram olhos ao negro manto acima das luzes da rua, quem sabe tenham percebido que, uma a uma, pequeninas estrelas deixavam de brilhar. Apagavam-se, simplesmente. Uns menos atentos poderiam pensar que se preparava um amanhecer nublado, chuvoso. Mas, eu podia ver a ausência de nuven