Midas
As mãos ásperas na pele medrosa. A mão que bate, que afaga, que aperta. Que deixa a digital no corpo alheio, marca território, reivindica para si tudo que toca. A mesma mão que esconde a boca e prende o gemido frágil, arrebatado, entregue.
Acordo sem respirar. Ainda a
sensação das mãos dele em mim.
Um sentir de dedos entrelaçados, de mãos dadas. Um frenesi na
lembrança das mãos que me trazem mais perto do abraço. Que me encerram sem esforço
algum.
Foi um sonho? Uma alucinação? Foi
o inventar de um personagem tão real que deixa de existir quando se abre os
olhos?
Suspiro e percebo que essas mãos
têm um rosto, um corpo, um cheiro. Não importa. Tudo já some como o toque da
brisa. Como o toque de Midas. E viro estátua de ouro, enquanto tudo desaparece
da mente.
Todo sonho finda ao pestanejar
realista da manhã... E o que fica não é a cena, não é a trama, não é desfecho. É
vontade de adormecer outra vez e me deixar possuir por aquelas mãos ásperas só mais um segundo.
Ilusão, delírio... Alegoria branda que se esvai e me deixa sozinha com meus lençóis. Enquanto o que resta é a vontade incauta daquelas mãos em mim. Enquanto o que crava na memória é um par de olhos verdes ao sol...
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