Distância
Há de ser compreensível o sentido do vazio. Há de ser
sublimada a ausência involuntária. Há de ser descrito em ode, em verso, em
soneto o abandono da saudade. Saudade, sentimento doloroso, prosa sem rima, sem
amarra. Saudade que se instala como febre, como praga. Saudade que faz voar a
mente incauta.
Sentir dessa saudade é o bem que se torna martírio. É o
querer que desfaz-se no brilho tão distante das estrelas no céu escuro. É desejar
perto aquele tal que se faz ausente. É ansiar presente a simples consciência do
querer.
Paz não rima com saudade, pois que a distância enevoa a
mansidão do coração enternecido. Qual destino que brinca com o imaginar alheio.
E pensar é desejar mais perto. É querer, por certo, o aconchego do abraço. É
fechar os olhos e sentir presente a quem longe permanece.
Sonhar é a dádiva da separação. É sublimar a ausência, é
tolher a saudade. Amar, porque é no amor que o sonho permanece físico. Paixão
intermitente de desejo, de quereres. Amor que aproxima as almas e faz diminuir
o espaço. Só assim se pode almejar ser feliz tão distante.
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