O Frio da Alma
Enquanto a carne descansa no
respirar de outro peito, uma luzinha tênue invade os olhos fechados. Enquanto o
carinho doce de mãos alheias discorre trilhas nos veios das costas, enquanto a
pele arrepia ao deslizar do beijo de outros lábios. Enquanto o arfar feromônico
refaz o torpor da fadiga... ainda assim a imagem se forma por detrás das pálpebras
cerradas.
E já não vale o encantamento do
olhar renovado sobre o corpo nu. Já não vale a plenitude do orgasmo partilhado.
Já não vale a intensidade do abraço, não vale a brasa que se resta em suspiro. E os dedos que
brincam no transpirar do amante já tateiam a imagem esculpida no lado oculto da
mente... outra pele.
Um pedido de desculpas velado pela
atenção desperdiçada. Pela incapacidade de dar-se a pleno. Pelo usufruto
concedido do prazer estreante. Pois, no lado de dentro dos olhos, paira a
estampa daquele que o outro não é. Paira a lembrança da paixão na tentativa do
esquecimento furtivo. Paira a saudade de alguém que deveria fazer parte dessa
cena a dois.
E todo brilho desinvade, esquiva,
arrefece. Como café deixado na xícara. Como o suor que mistura e seca. E o frio
da alma contrasta com o calor do êxtase já olvido. Porque o amor furtivo furta
o sentimento. Porque é aquele outro amor distante que faz transbordar de graça o coração.
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