A Cidade ou Eu
Cheguei de volta à metrópole. Minha terra, minha pátria. Cheguei repleta de amores, de saudades. Cheguei pra recomeçar. Mas, eis que tudo na cidade se diferencia da lembrança. Ou serei eu a vaguear por devaneios inexatos? Quem estará diferente, a cidade ou eu?
Já não sinto o ímpeto desbravador
quando lho pela janela e vejo o sol nascer. Já não tenho certeza dos passos que
dou rumo ao horizonte de descobertas. Algo no caminho de volta se perdeu. Ou
será que foi no distanciamento, na fuga, que me abandonei pelo caminho? Quem deixou
de lado o encanto, a cidade ou eu?
Os olhos que agora derramam lágrimas
sem sentido diante de um entardecer de domingo, são os mesmos que brilhavam
ante os sonhos, as possibilidades. São os meus olhos que choram diante da mesma
paisagem. Quem deixou cair meus pedaços enquanto corria ao final do arco-íris? Quem
se perdeu, a cidade ou eu?
Brinco e sorrio. Divago pelas
tardes dominicais. Troco ideias, preencho espaços. Mas a cidade parece tão
grande assim, vestida de mim. Ou serei eu tão pequena que não me caibo mais? Quem
errou na medida da alegria, a cidade ou eu?
Ainda quero as mesmas coisas. Mas
essas coisas já não são tão caras. Entristeci na ausência? Desconstruí na distância?
Quem tem culpa da solidão, a cidade ou eu? Ou seremos nós duas as vítimas daquele
que nos rejeita? Será culpa dele, afinal, essa tristeza? Quem esquecerá mais fácil,
a cidade ou eu?
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