Blaue Augen
Parece pieguice falar dos teus
olhos. Parece pouco, brega, obtuso. Parece pobre. Parece falta de idioma,
parece resto. Parece normal, trivial. Parece óbvio. Sim, parece. Mas é porque
ninguém mais consegue ver de frente esse espelho azul, essas duas gotas de
safira, esse errar de firmamento que faz brilhar teu olhar.
Duas fendas de azul profundo, de
puro anil oceânico. Nem as mais densas nuvens tiram dos teus olhos esse céu
escancarado a olhar para tudo, para todos, menos para mim. Ai de mim, que me
perco no celestial desse teu olhar. Sem que percebas, é esse índigo sereno que
me hipnotiza.
Mar revolto, onda mística.
Desfaleço quando, além de tudo, tens guardado um sorriso a estreitar pálpebras,
a delinear contornos. A tecer sobre quem te vê esse véu célico e morno. Pálida
solidão essa minha, que passa despercebida por teu olhar. Esse que acalenta o
mundo e deságua na mansidão do infinito.
Quem me dera ser estrela a flanar
no horizonte dos teus sentidos. Quem me dera ser um cílio, a abraçar-te a cada
piscar. Quem me dera ser o alvo desses teus olhos de piscina por um instante e
mergulhar sem medo de me afogar em ti.
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