Devolva
Venho, por meio desta, solicitar
a devolução de alguns itens restritos e pessoais que permanecem em poder de sua
pessoa. Venho, nesta carta, requerer o que é meu por direito intransferível.
Venho, nestas linhas mal traçadas, implorar ressarcimento.
O conteúdo da lista é pequeno,
mas o que você levou é caríssimo. Não tem ouro que compre. O que você levou não
pode ser dado, doado, emprestado. Foi roubado. Pertence a mim. Fato injusto e
inegável esse furto, esse apoderamento leviano.
Ledo tempo aquele em que o
presenteei com meus pertences mais íntimos. Esses, não os reivindico. Não os quero
de volta. Fique, principalmente, com a gama de pensamentos, de saudade e de lágrimas
que dediquei a você. São seus por merecimento.
Também não quero de volta os
suspiros tantos e os sorrisos tão poucos. Os beijos, queime-os, se não os
quiser. Meu coração, já o resgatei, no exato instante em que o entreguei a você
numa caixa de prata e você, sem abalo, o deixou cair das mãos. Meu coração
juntei do chão. É meu de novo.
A única coisa que quero – e essa
você precisa devolver – é minha alma que ficou presa a você. Essa alma é minha única
sobra. Sem ela, não crio, não rio, não vivo. Aceito que você não queira nem a
mim nem ao meu amor. Mas sem essa alma, não posso seguir adiante. Preciso dela.
Senão por paixão, por compaixão, devolva.
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