Eu ainda não encontrei



E o andarilho da noite que habita em mim ainda procura paragem, parada, sossego. Aquele mesmo de há vinte anos. Aquele que vagava solitário desbravando escuridões. Esse ainda anda perdido, jogando com feras... e vencendo a cada partida.

Mas o andarilho em mim está cansado de andar. De buscar o inevitável, de evitar a lástima, de lastimar o impossível. Intocável é o sonho do descanso, do aconchego sereno nos braços seguros do destino certo. Incerto esse buscar. Vagar eternamente, esse é o grande temor.

Pois que esse ser sem amarras quer amarrar-se em qualquer ancoradouro de sonhos. Quer, por fim, descansar os pés doloridos, esses que vagam há décadas sem lugar no mundo. Sem espaço seu, sem compaixão. Quer fincar raízes que nem sabe se tem. Quer descobrir se as tem, as raízes.

Esse andarilho, que por tantos e tantos descaminhos cruzou mares, desertos, montanhas, abismos, quer simplesmente parar num olhar, no fundo da iris... no semblante de quase sorriso de alguém dizendo “fica”. Esse é a grande meta de aportar, de pertencer, de estar.

Mas o andarilho em mim ainda vaga, mesmo que cansado de tanto ver mundo afora. Vagueia em busca do colo, do calor, do claustro. Vagueia enquanto aquilo que, em mim, eu busco ainda não for encontrado. Ainda, pois sei que está a um passo de mim.

Mas andarei, ainda procurando, eu e meu andarilho. Gritando por aquele nome que ambos não entendemos. E a nave não partirá enquanto não chegarmos, nós dois. De mãos dadas e corações abertos, derramando ânsias e bênçãos, derramando o amor que guardamos durante nosso andar...

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