Reflexões Sobre Alegorias



Sendo a época propícia a releituras – pois Carnaval é pura filosofia (!) – estreitamos olhos e enrugamos testas a pensar no ócio do óbvio. Ok. Parei de divagar. Sinto – e não sei se sinto sozinha – uma necessidade pungente de agregar conceitos a fatos insólitos.

Algo muda a cada instante em nós, seres viventes. Mudamos, revestimos, repensamos. Somos mutantes por natureza. E o estagnado sofre as consequências de não acompanhar as transformações. Transmutamos tudo. Nós mesmos, inclusive.

Um bom exemplo é a batelada de promessas de ano novo que a maioria dos mortais costuma elencar. Queremos melhorar, queremos sublimar. Ou, ao menos, almejamos chegar mais perto daquele ideal de perfeição. Claro que essa perfeição só habita a mente deturpada de cada indivíduo.

De posse desses conceitos de transladação, reformulamos vidas inteiras. Abdicamos de fervores, rotulamos intempéries, abrimos mão de preceitos básicos em prol da dita repaginada. Esquecemos, porém, do que nos é caro, do que nos é indispensável. Somos únicos em nossos defeitos, nada mais nos faz individuais.

Antes que possamos nos dar conta, ruímos as muralhas dos novos planos. E nos maldizemos pela falta de persistência. Realmente, não percebemos que é apenas nosso eu íntimo gritando que a mudança é inválida. Para que ser igual a todo o rebanho, afinal? Para que balir no mesmo tom?

Desse arrebentar de intuitos é que advém a cruel realidade. Somos o que somos. Não vamos mudar. Não somos alegorias carnavalescas a adentrar a avenida sob o ritmo frenético dos atabaques. Somos apenas errantes na multidão. Acostumem-se! Tenham orgulho de cada erro, de cada defeito crônico, de cada vergonha pessoal ou alheia. Isso, meus queridos, é viver!

E a vida nada mais é do que esse dia a dia regrado, desmazelado, impróprio, que nos impomos a cada amanhecer. Aceite cada detalhe errático, cada verniz descascado. Aceite-se... Sim, é complicado. Mas esse que você vê na fotografia, é realmente você. Mesmo que você não aprove a imagem.

Comentários

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E a vida nada mais é do que esse dia a dia regrado, desmazelado, impróprio, que nos impomos a cada amanhece"
e com pouca varição são sempre os mesmos, temperados aqui e ali com nossas doces e amargas ilusões.

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