Diálogo das Flores
Havia uma bela orquídea, desenhada de roxo e branco, delicada
e quase etérea, a esperar em sua linda caixinha enfeitada. Ao lado dela, sobre
o balcão da floricultura, um singelo vasinho de violetas foi deixado. A orquídea
mediu a violeta folha por folha.
– Olá, flor tão linda – disse, amigável, a violeta – Temos a
mesma cor, nós duas.
– Oh, não, querida – rebateu a esnobe orquídea. – As minhas
tonalidades são únicas. Eu sou uma flor rara.
– É mesmo? Eu não sabia. Muito prazer em conhecê-la, então. Fico
feliz de ter sido colocada a seu lado.
– Decerto que isso foi um engano e já irão levá-la.
– Por que diz isso? – intrigou-se a violeta – Estamos ambas
esperando quem nos queira.
– Sim, certamente. Mas podemos dizer que não esperamos pelas
mesmas gentes.
– Como assim?
A orquídea sorriu, disfarçando o desdém.
– Eu sou um presente caro. Por certo, vou adornar não apenas
quem possa pagar por mim, mas quem me mereça de fato. E você, não que isso seja
ruim, é claro, adornará um lugar comum, quem sabe um peitoril ou bancada. Entenda,
se somos assim, tão diferentes, precisamos ficar apartadas. Quem irá me
perceber se você, em sua mesmice, estiver ao lado, atrapalhando a minha beleza?
– Bem, me desculpe – disse a violeta tristemente. – Se eu
pudesse, deixaria este lugar para não estorvar mais. Mas não posso. Talvez,
alguém me compre rápido. Não sou cara ou rara. Qualquer um pode pagar por mim.
– Sim, nisso você tem razão. Ou alguém virá e levará você
para uma das estantes.
– Enquanto isso, nada posso fazer senão esperar. Nunca se
sabe quem vai entrar na loja.
– Só sei que, quem quiser me ganhar, tem que ser mais que o
óbvio. Pena, as pessoas são óbvias... mostram-se na ausência. Preciso de mais,
preciso ser especial... que pena que ninguém consegue me fazer especial como eu
mereço.
– Ninguém
consegue? Como assim?
– Ai, já
estou cansada dessa caixinha – suspirou a orquídea. – Faz tempo que estou aqui
a esperar que entre alguém que me mereça. Você sabe, os especiais.
– Faz quanto
tempo?
– Um dia ou
dois. Por quê?
A violeta
ofereceu à orquídea um sorrisinho triste e nada mais disse. Deixou que a bela
falasse o quanto quisesse sobre suas qualidades e diferenças. E o tempo foi
passando. O dia foi passando. Com o cair da tarde, a orquídea parou de falar. De
seu vasinho com terra fofa e água, a violeta chorou. De que adiantava tanta
beleza, de que adiantava ser rara, ser cara, e viver um dia apenas numa caixinha
enfeitada? E se as pessoas não óbvias não apareciam... morrer assim, ainda tão linda.
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