Terezinha Pós-Moderna
“Terezinha de Jesus de uma queda
foi ao chão. Acudiram três cavalheiros, todos três chapéu na mão.”
O primeiro foi impacto. Foi o
beijo na calçada escura. Foi paixão arrebatadora. O primeiro foi moicano,
bandana, alargador, tatuagem! O primeiro foi puro fogo, testosterona. O vigor
da juventude. Impulso, suor e pêlos. Foi violência e ardor. Mas também foi
meiguice, segurança, foi docilidade e susto. O primeiro foi tudo o que ela
queria. Um misto de homem e menino, um mistério denso, delirante. E foi medo,
foi arisco. Deixou um rastro de saudade e lágrimas. Deixou o gosto de cerveja
forte. E ela chorou pela ausência ele.
O segundo foi delicadeza. Foi o
reconhecimento, o interesse, a lembrança. Foi o gostar suave, desvendado aos
poucos. Foi palavra, foi imagem, criação. Foi puro carisma, afinidade. O
aconchego da maturidade a conflitar com a alma juvenil. Foi decência e amizade,
foi aceitação. Mas também foi impossibilidade, foi barreira imposta e
intransponível. Um doer-se de mundo, de experiências inexatas. E foi intocável,
foi inacessível. Deixou o gosto do beijo não partilhado, deixou apenas tristeza
pelo que poderia ter sido, pela cumplicidade não dividida. Deixou aspiração. E
ela decidiu não chorar pela distância dele.
O terceiro foi corpo. Foi pele de
seda, apego, carne. Foi o desejo aflorado, saciado, envolvente. Foi silêncio,
atitude, magnetismo. Foi puro sexo, redenção dos sentidos amortecidos. Foi aventura, motocicleta, vento. O calor
da cobiça a incendiar o ego. Foi luxúria e soberba. Mas também foi aconchego, mansidão,
respeito. Um querer sem consequências, uma ausência de cobranças, um faltar de
compromisso. E foi delicado, saboroso, foi apenas prazer. Deixou um gosto acre
da falta de sentimento, do anseio satisfeito, nada mais. E, por ele, ela não
chorou.
Ao fim do triângulo, cada qual em
sua conta, cada um com sua quota. Ao final dos três cavalheiros, a moça chorou
por si mesma. Pois que unindo dos três o melhor que traziam, teria para si o
homem perfeito. Todavia, apartada de todos, ela lamentou o resultado, o
desafeto instaurado. A qual o coração escolheria? E quis para si apenas um
deles... E quis para si o único que não tinha esquecido, que não tinha contido, que
não tinha podido, que não a tinha amado...
A moça quis a força plena da paixão espontânea. Sentiu falta da voz ao alcance do
ouvido, e a vontade de mais um abraço, mais um beijo apenas. Mais um
pouquinho daquele mistério que não era dela. E que, talvez, jamais fosse. Era
esse a quem queria. Era dele aquele amor. Por isso, seguiu sozinha,
Terezinha!
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