Abracadabra



Qual das magias é aquela que trará o amor perfeito ao coração? Qual espelho, espelho meu é o encantado? Qual maçã estará envenenada? Como saber qual daqueles é o príncipe? Ou qual é o sapo?

Contos de fadas são peças meigas no quebra-cabeça da imaginação infantil. Quando passam, quase despercebidos, para a era adulta, aí são um problema. E não somos poucas – princesas modernas – as que esperamos por lindos cavalos brancos e armaduras brilhantes.

Passam os anos e somos rainhas, somos madrastas. Na verdade crua, nada mais somos que mortais desencantadas, despenteadas, desgrenhadas mães correndo atrás das crias. Meras borralheiras de forno, fogão e escritório. Sereias de máquina de lavar, Cinderelas ensandecidas.

E o príncipe? O príncipe está no bar ou no futebol com os amigos. O príncipe resolveu pedir o divorcio ou nem mesmo casou. Mas somos fadas-madrinhas de nós mesmas, e decidimos empunhar nossas próprias espadas e matar nossos próprios dragões. Pra que guerreiros se somos nós as heroínas?!

E somos mesmo as magas do caldeirão, as senhoras de todos os lagos. Feiticeiras e sacerdotisas. Somos as verdadeiras filhas da Deusa. Fortes e sorridentes, movemos o mundo e preparamos – normalmente sozinhas – a próxima geração de príncipes e princesas.

Só há um pequenino problema. A ervilha sob os cobertores. Enquanto a noite chega e a Estrela Azul brilha na janela de Gepeto, não há senão grilos eletrônicos falantes a fazer companhia. Nada de lobo mau. Nada além do crepitar das brasas dos corações guardados na caixa de veludo do caçador. E vivemos sozinhas para sempre.

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