Longínqua Ilha do Caos
Sou como a praia branca imaculada
que antecede o ancoradouro solitário. Sou a espuma da onda límpida que beija a
areia no vai-vem cadenciado do mar azul. Sou a gaivota planante a esperar o
peixe desavisado. Sou o raio de sol que esquenta a pedra e o vento balouçando a
folha da palmeira.
Sou essa ilha encantadora e
deserta, enraizada em meio ao oceano vasto e intransponível. Sou a luz do farol
orgulhoso, que ousa medir forças com a lua na escuridão pontilhada de estrelas.
Sou cada concha esquecida, sou cada grão de sal.
Vez em quando, um barco
desavisado ruma para minhas praias, atraído pela beleza intocada, pela paz
convidativa, pela sensualidade de minhas trilhas. Vejo as velas embaladas pela
brisa e as ondas que lambem o casco audacioso que se aproxima.
Todavia, ao aportar, esse barco
encontra em mim algo que o faz partir tão rápido quanto chegou. Algum quê de
caos nesse microuniverso cadenciado. Porque a ilha é ela e somente ela. Não há
espaço para quem vem de fora. Tudo está em seu lugar, arrumado e preciso. E o viajante
mal põe os pés na areia para perceber que não tem lugar por ali.
E parte. O barco vira as velas e
desaparece lentamente na linha constante do horizonte. E sei, mais uma vez, que
sou eterna e eternamente sozinha. Uma ilha bela e brilhante, incapaz de
suportar ou suprir outra vida. A terra do caos em sua ordem caótica, íntegra e
completa. Não há lugar para náufragos em mim.
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