Pólvora!
Quero tudo, já disse! Quero pólvora, quero bala de canhão. Quero
a carcaça do inimigo arrastada atrás da biga. Quero sangue escorrendo de minhas
alvas mãos. Quero lástima, quero morte, quero o avesso da sorte! Quero deter e
determinar essa dor, isso que dói. Quero de volta o controle de tudo. É querer
muito? Pergunto aos guerreiros antes do embate.
Quero fogo, quero fúria, quero fumo, quero férias... Não sei
o que quero. Mentira. Eu sei bem. Sei que quero. Só isso. Desejo, anseio,
quero, necessito. Assombro d’alma, esse agito que estremece o corpo. Esse frêmito
galopante do arrepio que eriça a pele. Esse desmedir rompante de querer
somente. De querer e pronto. Eu Quero! Preciso...
Quero o escalpo do selvagem, quero o coração da feiticeira. Quero
porque mereço essa tal aflição irredutível. Essa felicidade perfeita. Quero
tambores e gaitas de fole, quero ovações a clamar meu nome. Quero sussurros,
quero gemidos. Quero pra mim essa voz ronronada em meu ouvido. É absurdo? Impossível?
Será?
Quero teatro do absurdo, teatro mágico, trama caótica. Quero
encenação, quero verdade, quero drama. Quero esse trauma, quero impacto. Quero
meus lábios naqueles lábios de pedra, quero meus olhos naquele castanho
profundo. Quero o fim do mundo, mergulhada naquelas mãos imensas. Quero de
volta... quero pra mim... bem assim. Será que não posso sequer querer?
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