Alguém para mim
A sirene de uma ambulância distante
ecoa pela imensidão da avenida quase deserta. O asfalto espelha com a chuva
fria, refletindo os poucos veículos que cruzam meu campo de visão. E eu, do
lado de cá do vidro embaçado da janela, fico me perguntando se haverá alguém lá
fora para mim.
Leve sonho ainda acalentado. Um
par de olhos que me vejam como sou, um sorriso que sorri apenas para mim. A mão
entrelaçada na minha em passeios secretos, um beijo roubado em esconderijos românticos.
Breve devaneio de minha solidão. Eterno suspiro, desejo latente desse rosto que
ainda não vi.
Imagino que exista ainda aquele
que não conheço, e que reconhecerei. Aquele que virá um dia acabar de uma vez
por toda com minha apatia solitária de observadora do mundo. Um alguém que não
precise de palavras, só de olhares, só de afeto. Alguém que também me busque
sem eu saber.
Talvez, esse alguém esteja apreciando
a chuva da madrugada em algum lugar dessa mesma cidade. Talvez perambule pelas
mesmas ruas que eu. Quem sabe, também busque por alguém na vastidão da metrópole,
por alguma alma assombrada pela falta de carinho, como a minha.
E se esse homem existir, minha
vigília da janela talvez não o reconheça. Talvez já nos tenhamos encontrado e
desencontrado. Quem sabe ainda não. Quem sabe, ele esteja tão perto que não
consigo enxergar. Ou tão distante, que outras bocas quaisquer ameacem nosso
achego. Ou, quem sabe, nem mesmo exista esse alguém para mim.
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