Erro Recorrente



O medo paira sobre o coração humano calejado em erros. O tempo não é amigo do esquecimento. O tempo simplesmente faz deslembrar a dor e cometer o delito outra vez. Mas esse tempo não apaga da fibra a impressão do medo, do abuso, do erro cometido. É o alerta da célula incrustada de memória.

E aquilo que atrai também apavora. O gosto na saliva lembrando o doce da vontade e o amargo da desgraça. Mesmo que o tempo passe, a impressão digital arroxeada permanece dolorida. Porque o querer do pecado vai voltar. Vai invadir e desdizer toda a verdade acumulada. Vai insistir e emoldurar em ouro a tragédia anunciada.

O dourar da pílula letal será suficiente para turvar a vista e calar o grito. O aroma aguçará o apetite. A refeição parecerá farta e saborosa ao paladar adormecido. E a recompensa atiçará tudo o que restar de cobiça. Este será o momento da queda, do derradeiro deslize. Fraqueja a alma e anseia a pele. Vacilar é morte certa.

Um passo à frente e tudo estará perdido. A dor retornará. O senso de desordem retornará. E o prato suntuoso se mostrará indigesto e pútrido. Comer desta fruta uma vez é imperícia. Levá-la novamente aos dentes, é imprudência. Atenção aos alertas. Desconfiança sempre. Ter medo é não se permitir errar outra vez.

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