Negações
Não estarei aqui quando você precisar.
Não segurarei sua mão durante o caminho escuro. Não serei o porto seguro para o
retorno da jornada. Não serei nada daquilo que você possa esperar. Não serei
nem mesmo uma opção ao seu martírio solitário, ao claudicar do ego magoado. Serei
nada. Menos que nada serei.
Não colocarei em risco meus princípios
por você. Não será minha a dor que o consome. Não derramarei qualquer lágrima
ou gastarei qualquer sorriso por culpa sua, ou por seu mérito. Não moverei músculo
sequer para amparar você. E quando o desespero se instalar, repleto de monstros
emparedados, não espere que eu esteja lá para cantar uma canção de ninar.
Não cederei ao seu desejo nem me
deixarei seduzir por beleza alguma. Não aplacarei fomes ou febres, não serei o
bálsamo, não viverei presa a você. Não me interessa que você peça, que você
reclame, que você implore. Não ouço mais o que você diz. Não estarei por perto
para ouvir. Não me darei ao trabalho de responder a nada.
Não faça caras e bocas, nenhum
semblante lamurioso corromperá minha decisão. Não sou má, não sou mesquinha.
Sou só aquela que deu a você tudo o que tinha de puro e bom. Sou quem recebeu
de volta o mesmo nada que lhe ofereço agora. Não sou sádica. Não sou tirana.
Sou simplesmente igual a você. E até nisso consigo ser a melhor de nós dois.
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