Refúgio
Uma catedral gótica e seus
vitrais coloridos e sua torres pontiagudas e cinzentas. Um santuário de ouro repleto
de imagens de santos penitentes e anjos armados com espadas. Nave e altar,
templo austero... Ou o simples deitar da cabeça em teu peito e esquecer a vida
lá fora.
Gruta oculta na montanha mais
íngreme. Caverna escura revestida de pontas de gelo. Cânticos dos monges a
louvar a essência, a não-existência. Local de cura das almas que se perderam na
tempestade dos dias.... Ou só um beijo de teus lábios em minha fronte, doce e
terno, eterno, manso.
Claustro ou catacumba. Estrada
vazia, soleira. Um lugar para recuperar a força, remendar a armadura, chorar a
batalha perdida ou vencida. Prantear os mortos, as nossas mortes tantas. Um
ponto de fuga, um portal... Ou simplesmente o calor dos teus braços macios ao
meu redor, protetores, a embalar meu sono.
Cada passo em falso leva ao mesmo
caminho. Cada dor, cada fagulha, cada mágoa. Cada derradeiro desejo vertido ou
contido. Cada vacilo. Tudo termina e recomeça no alento que só sei ter em ti,
meu refúgio do mundo. E me aconchego, segura, em teu corpo. Até outro novo
amanhecer nos separar...
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