A Gêmea Má




Parece que dentro de mim há travada uma guerra sem trégua. Parece que dentro de mim a batalha campal se estende por além dos limites terrenos. Hora fogos de artifício, hora bombas de nêutron. Hora paus e pedras, hora o estremecer matraqueante da metralhadora.

Parco é o tempo em que o inimigo dorme. Parca é a folga quieta da retirada das tropas. Volta sempre a horda furiosa de um só a caçoar de mim. A risada dela permeando meus pensamentos estreitados. Invadindo ideias e espalhando o veneno do entorpecimento. Já não me guardo. Não há fuga.

Cada benevolente decisão tomada, cada obviedade descrita e praticada, lá está a outra a sacudir-me pelos ombros, a gritar-me na mente. Lá está aquela igual a mim. Meu lado perverso, a parodiar minhas tentativas inutilizadas. Um passo adiante, dois retrocedem. E sempre cedo. Ela é forte e eu não tanto.

Resta o embate fatal diário. Resta o sangue escorrido de mim para ela, dela para mim. Restam as veias que latejam nos olhos fundos duma e doutra. Eu faço, ela desfaz. Eu amarro, ela desata. E esse eu que não quero ser, ainda o sou por essa minha sombra feia. Bastar-me-ia saber quem de fato é a má, eu ou ela.

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