Dia das Bruxas
No princípio, noites de fogueiras
nos definiam. Beltames e Samhains. Antes, éramos as matriarcas livre e tínhamos,
em nossos ventres, o poder da magia. Antes de tudo, éramos nós a própria
encarnação da Deusa. Dançávamos invernos e fertilizávamos primaveras. Éramos as
bruxas.
Pouco depois, éramos as máquinas
de fabricar homens. Puras parideiras, nada éramos além de esposas fiéis, mães
dedicadas. Mas também éramos as que sabiam das curas, dos unguentos, das
feitiçarias. Éramos nós o esteio e o alicerce da sociedade patriarcal, patrícia.
E não éramos livres. Nem tínhamos voz.
Depois... era novamente o fogo. Não
o das flores e das danças de fertilidade. O fogo pútrido e mentiroso dos homens
vestidos de negro. As fogueiras ardiam em praça pública e queimavam nossa carne
dilacerada na tortura. Éramos indignas, impuras. Éramos noivas do demônio.
Feiticeiras.
Hoje... hoje somos chamadas
feministas, agressivas, dominadoras. Hoje, talvez assustemos mais do que na era
das tochas vivas da Inquisição. Somos tão fortes, tão presentes, que não nos
apegamos mais aos do outro sexo. Não os desprezamos, jamais. Só não precisamos
deles. Voltamos a ser a Deusa de nós mesmas.
Agora, podemos ser o que bem quisermos.
Podemos tudo, sempre pudemos. A diferença é que agora sabemos e aceitamos essa
condição de prioridade. Pensamos diferente? Não, creio que não. Apenas deixamos
de nos submeter. E isso não nos fez mais masculinas. Só mais livres. Hoje,
somos apenas mulheres.
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