Difícil Tarefa da Não-Vitimização



Tiraram-me de mim por um momento. Posso dizer que me vi de fora... ou de dentro. Por dentro. Não sei ao certo. Nada sei ainda. Talvez não descubra nunca. O que é certo é o fato. O ato. A exatidão da dor. Dor física, dor psicológica. A medida do sofrimento é proporcional à paralisia da alma... Não é raiva, é tristeza...

Diz a teoria que toda mulher é vítima ou se faz de. Que toda fêmea se sente inferiorizada diante da constatação do simples desejo do macho. Sim, estou falando de tesão. Concordando ou não com essa teoria, é certo que muitas de nós pensam assim mesmo. Que somos as vítimas indefesas diante da força bruta masculina.

Vemos a nós mesmas como objetos, bibelôs. Surtamos quando constatamos que aquele príncipe encantado só queria transar. Como se nós não quiséssemos... Contudo, diante da demonstração de violência, seja no corpo, seja na mente, a tendência é que nos encolhamos, que nos tornemos quase que as culpada da brutalização.

Quantas de nós sofrem abusos e se convencem de que merecem? Leis, delegacias especializadas... nada adianta se a fêmea se vê como culpada pela agressão que sofre. E isso, a meu ver, também é uma forma de vitimizar-se. A inércia é consentimento? Não, é medo mesmo. Vítima é aquela que se faz menor.

Quando algo esquisito acontece, descobrimos que estamos realmente sozinhos. Nada nem ninguém ajuda ou ameniza... sequer defende. Mas será que precisamos mesmo de defensores ou consoladores? Será que eu preciso? Posso não ter a culpa, mas será que preciso carregar o estigma?

Não quero ser vítima. Não quero que me olhem com piedade. Não quero sorrisos amenos ou carinhos caridosos... Quero apenas pensar sobre as maldades do mundo. Sobre como é ruim estar só... sobre como é melhor estar só... Sobre se minha porta está literalmente trancada! Nada mais quero de mim. Só quero meu eu de volta.

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