O Visitante
Se eu contasse quem bateu à minha
porta hoje, você não acreditaria. Se eu contasse quem veio me procurar, você
pensaria que estou mentindo. Se eu dissesse quem chegou, sem convite e sem
aviso, por vontade própria, e chamou meu nome, você duvidaria de pronto.
Se eu contasse quem sorriu pra
mim com aquele sorriso lascivo, cheio de segundas intenções, você, com certeza,
riria da possibilidade. Se eu dissesse que ainda é o mesmo sorriso devasso esse
que me sorriu, olhos dentro dos olhos, você diria que estou inventando.
Se eu dissesse que esse ser
sorridente ainda é tão belo quanto antes, que me veio com desculpas pra me ver
de perto, o que você diria? E o que diria se eu confessasse que gostei da
visita? Apesar da balbúrdia, do desconcerto, do nexo desconexo, que eu gostei
da procura?
E o que você pensaria se eu
contasse que, apesar de gostar da procura, do subterfúgio, apesar de sentir-me
poderosa outra vez, esse que bateu à minha porta já não me é nada? Nada há
entre mim e ele. Nada restou, só a beleza daquele sorriso desvanecendo no tempo.
O passado veio bater à minha
porta. Ele me sorriu e eu sorri para ele. E ele ainda tem aquele sorriso lindo.
Mas eu não o deixei entrar.
Comentários