Sentido de Urgência (II)



O sentido de urgência explode no plexo. Sensação ruim, pressão, ansiedade. O corpo reage antecipadamente, a mente grita enclausurada na vontade. A vontade é tudo! Cada célula viva se rebela, se torna inimiga da consciência. Nada se alterou de fato – ainda –, mas o terror já toma conta. Tudo muda. A vontade é a Lei!

Sucumbir ao grito de socorro é o erro fatal. Fatalidade é engodo, desculpa. Nada se faz sem a força interna, sem intento. Em uma existência plenamente mundana, regada a prazeres e excessos, há que se querer intensamente quando da premissa da mudança. A mudança requer dor. É preciso sacrificar algo.

Enquanto a razão aplaude, louva o privilégio da libertação e assume a novidade como dádiva de aprimoramento, curtos circuitos acontecem em cada átomo. O corpo ainda grita. E grita cada vez mais alto. Berra muito antes de qualquer atitude. Porque ele “sabe” que a dor virá. E o novo sempre assusta.

Os monstros internos todos acordados, formando um exército, uma barreira armada. Eles defenderão como puderem qualquer espaço que lhes pertença. Serão causídicos de tudo que lhes é natural, cômodo, familiar. Diante da mais tênue alteração de uma rotina tão longa, armas em punho. Manter o hábito é a ordem primal.

A decisão, contudo, já está tomada. A vidraça foi quebrada, e só depois dos cacos pelo chão se pode perceber como o vidro estava embaçado, camuflado, nebuloso. Já não existe nada turvando a visão. Que venha a batalha! Que seja sangrenta e rápida. Que seja uma só.

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