Jogos Incompletos
Será tão difícil a arte de ser
feliz? Será tão complicado obter do universo favores que supram as carências do
coração humano? Seria assim tão incoerente querer – ou requerer – a felicidade
como condição primordial para a sobrevivência?
Decerto que é complicado ver-se
satisfeito. O difícil, todavia, não é ser feliz. Difícil é encontrar a peça que
falta em cada pequeno quebra-cabeça que habita a alma. E essa – a alma – é a
parte de nós complicada de agradar.
Muito pretendemos de nós mesmos. Muito
mais nos é exigido dia após dia. Família, filhos, trabalho, dinheiro, posses,
amigos, amores, prazeres. Tente encontrar a pecinha exata para cada um desses
jogos e você alcançará a absoluta felicidade.
Entretanto, deixe que apenas uma
das peças falte, e veja o mundo desmoronar-se como castelo de cartas ao vento.
Perca uma peça e o cubo nunca será completado, as cores não se encontrarão ao
final. Deixe escapar uma para que nenhuma das outras valha a pena.
Difícil é contentar-se em ser próspero
sem tem amigos. Complicado é esgotar-se de mimos sem ter a quem ninar. Complexo
é possuir muitos bens sem encontrar alguém que nos possua. Triste é tentar ser
feliz como os deuses e saber-se meramente humano.
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