Minha Mãe - Parte 2
Talvez eu devesse começar pelo
começo... eu nasci 18 meses após minha mãe e meu pai se casarem (com véu,
grinalda e tudo)... Naquela época, não havia ultrassom nem fralda descartável.
Minha mãe sofreu um aborto espontâneo aos 3 meses de gravidez. Ao ir ao médico
(ainda bem que foi), descobriu que ainda estava grávida... era eu. Sou
persistente.
Nasci. De cara, meu pai abandonou
o leito conjugal e passou a dormir no quarto do meu tio e padrinho (solteiro
que esse era na época). Ele não gostava de choro de criança. Começamos bem, meu
pai e eu...
Enfim... fui crescendo...
Minha primeira lembrança, a mais antiga, é de minha avó e minha tia (a Dadada,
pra quem teve o desprazer de conhecer!). Essas duas efetivamente cuidavam de
mim...
Bom, o que eu
sei – o que pude deduzir – é que minha mãe não foi talhada para ser mãe. Tipo,
trocar fraldas, passar noites em claro, amamentar e padecer no paraíso. Eu sei
porque fiz tudo isso! E amei fazer, sinto saudade, caso alguém pergunte.
Foi quando
minha filha nasceu que a ficha terminou de cair com relação a minha mãe. Eu
entendi que ela deveria ter me amado desse jeito absoluto, sem definição. Do
mesmo jeito que eu amo a minha filha. Só quem pariu pra saber...
Mas, nunca foi
assim. E eu passei a vida questionando se a culpa não era minha. Eu devia ter
nascido menino. Meu pai gostaria mais de mim assim. Ou... eu deveria ter
nascido menina E SIDO UMA MENINA. Minha mãe gostaria mais de mim assim...
Só que eu não
era. Eu era uma menina moleca, que jogava futebol na calçada e enforcava
bonecas na parreira... Eu adorava três coisas: andar de bicicleta, os meus
gatos e torturar o meu primo mais novo... que fazer... desculpa, Beto!
Lembro que eu
ganhei um álbum de figurinhas da Disney, desses de cromos... e nunca consegui
colar uma figurinha sequer... porque minha mãe colava todas antes de mim. Eu me
sentia frustrada, eu sabia fazer aquilo... sei lá quantos anos eu tinha... 4 ou
5... mas ela fazia questão de colar por mim. “Tu é desajeitada, tu vai
estragar.”
Nessa época,
meu pai me ensinou a ler (o que botou abaixo qualquer tentativa de fazer do colégio
um lugar divertido mais tarde...). Minha avó materna sentava comigo todos os
dias depois do almoço e lia uma história no pátio, num banco verde de madeira
que é um dos marcos da minha infância. Eu copiava as histórias e depois copiava
os desenhos do livro... foi quando me apaixonei pela escrita.
Minha mãe e eu (5 anos). O bebê é a Luciana. |
Comprido isso,
né? Segue no próximo post...
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