Sacrifício



Tempo de perder, de desfazer-se. Tempo de deixar ir. Desistir, como dizia Caio, é ainda assim um gesto de coragem. Ou de puro desacato ao ego. Que seja... há de existir para sempre e em cada sempre o derradeiro momento da partida. Partir-se ao meio, rasgar-se para que aquele peso chamado esperança saia do peito sem que possamos impedir.

O tempo da utopia já passou. É preciso sacrificar algo. Que seja o orgulho a ser jogado no fosso. Que seja a soberba o pecado a ser santificado pelo fogo da expiação. A força - tanta força, tanto esforço - de nada serve. A forca nada mais é do que um pedaço inerte de corda. O pescoço apertado nela é o que importa. O tempo é de desapego, de entrega. Tempos de morte.

Necessário contradizer a insensatez, imprescindível dar ouvidos ao destino, ao fato inevitável, ao fracasso. Ceder ao poder do que é mais forte que nós, maior que nossa vontade, que nosso sonhar tão errante e alucinadamente lúdico. Esse que acredita em fadas, em milagres, em livros... O futuro é um buraco negro. Quem sabe o que haverá por lá.

Mesmo com a consciência equilibrada entre a lucidez e a tristeza, mesmo com a maturidade apaziguada... mesmo assim, esse morrer dói. O deixar para trás causa um rastro de lágrimas, de páginas rasgadas. É preciso crescer e deixar de tentar, deixar o devaneio, deixar-se cair. Nadar contra a correnteza é para os jovens, para os que virão a seguir.

Uma despedida é sempre abastecida de severa dualidade. Ao mesmo tempo em que chicoteia a perspectiva despedaçada, alivia a alma calejada, ferida e alquebrada. Alma velha, já a tanto tempo tão cansada. Resta respirar fundo nesse último fôlego, enquanto o ar ainda adentra os pulmões, e dar afinal o passo à frente, para longe, para o fim. Dizer adeus.

Comentários

Anônimo disse…
LINDO E PROFUNDO!
Anônimo disse…
ai que sensato tudo isso parabéns pelo texto
Anônimo disse…
Você escreve muito bem o que sentimos. Bom saber que existem seres humanos que escrevam tão bem. Fiquei emocionada, fazendo uma viagem pelas suas belas palavras. Parabéns, Gi!
Anônimo disse…
me identifiquei muitoooooooooooooooooooooooooo
Anônimo disse…
Estou passando exatamente por isso. É complicado dar adeus, tentar esquecer. Estou confiante que vou conseguir. Seu texto me sinalizou muitos caminhos. Penso que devo cuidar mais de mim. Valeu! Adoro seus artigos
Anônimo disse…
explorando seu blog aqui e vento verdadeiras pérolas. vou roubar algumas, tá? kkk mas vou colocar seu nome, claro. vou visitar mais vezes aqui. parabéns
Anônimo disse…
Tudo bem? Já conheço sua literatura pelo livro A casa da montanha, e lendo seus artigos aqui, vejo o quanto você é maior do que imaginava. Obrigado por saber traduzir tão bem as complexidades de nossa alma. Você é muito especial. E quando lançar mais outra obra, nos comunique. Será uma honra saborear sua ótima literatura. Beijão!


João Pedro de Mello
Anônimo disse…
já estive em SP no lançamento do seu livro a casa da montanha, mas não consegui comprar o livro no dia, e agora descobri seus textos no blog. Perfeitos, Gi! espero um dia te ver pessoalmente para pedir autógrafo. No dia lá em Sp não te vi cheguei muito cedo o meu marido não podia ficar muito tempo e viu né. Mas consegui comprar um exemplar através de um amigo. Adoro sua forma de escrever. beijos e mais criações.

ana carolina Dias- de São Bernardo do Campo
Anônimo disse…
Que artigo fabuloso!!!!!!!!!!!!!!!! Li até para o meu filho aqui e ele até pediu para eu postar no face! vou fazer isso com a devida autoria.


Parabéns pelos artigos. Vou começar a ler cada um aos poucos.


fica com Deus, Giselle.

Francine
Anônimo disse…
Tudo bem Giselle? Passando aqui para parabenizar pelo blog q já deveria ser um livro de sabedoria para termos em nossa cabeceira. Espero q isso vire realidade.


Parabéns também pela tua editora Escândalo,tseus escritores, tu tens um talento que poucos tem.


Felicidade, minha llinda.


Beijão do teu fã aqui de Santa Maria, Carlos Glauco.


Se cuida
Anônimo disse…
E aí, Giselle????????


Massa os teus textos ehmmmmmmmmm



parabéns!!!!!!!!!!!


É isso aí!
Anônimo disse…
a gi tem essa mania de descobrir os nossos segredos mais profundos, danada ela.


Parabénssssssss



Beijos para filhota também.
Anônimo disse…
Tudo bem?


Os textos da Giselle são bem psicológicos em relação aos seus livros, que são mais narrativos. Isso é ótimo para ligarmos esses dois pontos de sua escrita. Gosto de ver essa distinção nela. E podemos ver sua versatilidade em versar os vários meandros da literatura.


Obrigado por compartilhar pequenas joias sábias.


Alex- Rio de Janeiro
Anônimo disse…
Admirada com e voce escreve bem!


Procurava alguns temas no Google e me deparei com o teu blog e fiquei lendo muita coisa boa. Muito bom ler o q nos toca e voce sabe captar muito bem essa angústia existencial da alma humana, quisera eu escrever de uma forma tão brilhante. Ainda bem q temos voce.


mais textos bacanas assim.


arrasa sempre.

bijocas


ana maria
Torres- rs
Anônimo disse…
Passando rapidinho para parabenizar pelo artigo


Bom ler palavras tão bem colocadas.


Abraços querida.



Cristina Aguiar - São Paulo
Anônimo disse…
Só para dizer APLAUSOS!

Gratificante ler coisas tão iluminadas, de uma mente brilhante.


todo meu carinho.


Luiz Miguel Córdola
Joinville- SC
Anônimo disse…
Ai ameiiiiiiiiiiiiiiiiiii


nÃO sei o q é catártica kkkk

mas tá vld



Rebela Soares
Sp capital
Anônimo disse…
GENIAL GENIAL

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