Crônica sobre mim mesma!
Passei dos 40 anos. Passei direto, fiz muito. Foram quatro
décadas intensas, creiam. Ganhei prêmios de cinema, criei campanhas
publicitárias internacionais, escrevi romances que fizeram chorar.
Sim, eu me fiz viver nesses mais de 40 anos. Mais... Não
ouse perguntar quantos mais!!! Uma dama nunca revela a idade. Mas, já que não
sou nenhuma dama, exponho os fatos pra que quiser saber!
Nasci em épocas de regime militar. A sombra da polícia da
repressão pairando sobre mim. Obviamente, eu me tornaria revolucionária. Outra
sombra que me pairava era a da alienação. Obviamente, eu me tornaria engajada.
Vocês recriminam?
Nunca fui pobre, no sentido literal. Se eu queria aquilo,
ganhava dois... Mimada? Nunca! Sei o valor real e subliminar de uma calça
jeans. Meus pais nunca tiveram essa conscientização. Nunca conquistaram a
liberdade plena de expressão. Pena deles...
Quando me vi gente, a ditadura havia acabado. E loucos de
cabelos espetados gritavam “Boys don’t cry”... Eu não sou boy, jamais fui...
então, estava liberada pra lamentar. E foi nessa febre de rock e liberdade que
me tornei eu mesma.
Não digo que as dores da geração anterior não tenham me afetado. Errei muito enquanto segui os preceitos dos genitores. Mais
do que gostaria de lembrar. Mas esse erro era deles, não meu. Fui eu quem
sofreu a consequências, mas a desilusão foi só deles. Estou em paz quanto a
isso.
Hoje, tantas décadas depois de tudo isso, vejo minha filha
livre. Garanto essa liberdade dela com a minha própria consciência em penhor. E
sou livre, ela será livre. Livre de quê? De amarras morais e travas sociais inúteis.
Ela será feliz.
Eu? Eu sou feliz! Realizei tudo o que sonhei, fiz tudo o que
quis, beijei quase todas as bocas que desejei... Quase todas! Hoje em dia, você
pode achar que quero apenas paz e sossego. E eu ouso rir disso. Mais do que nunca, quero o que ainda não foi conquistado. Ou você duvida que eu, logo eu, consiga!
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