Aborto!
Sempre que eu penso no assunto maternidade, eu, inevitavelmente,
lembro da minha mãe. E, inevitavelmente, eu penso: por que ela não me amava?
Não que ela não me amasse de fato. Mas ela não me amou como devia. Nem perto
disso.
Ah, como se deve amar a um filho? Onde está a fórmula? Ótima
pergunta, e eu respondo. Ame, só isso. Ame sem restrições, sem imposições, ame
incondicionalmente. Mas, se você é mãe, eu não preciso dizer, pois você já faz isso
naturalmente. Já ama seu filho ou filha com TODAS as forças, mais que a você
mesma. Isso é ser mãe!
Ser mãe é proteger, cuidar, alimentar, ensinar. Tudo isso é muito
cansativo, mas nos dá um prazer imenso. Um filho é a sublimação da vida de
qualquer mulher. Qualquer mulher que queira realmente ser humana e completa. A
maternidade nos dá sentido à vida. Se alguém disser que não, ou é homem, ou
está mentindo, ou não é mãe.
Mas, há momentos em que tudo dá errado, acontece sem querer,
sem planejar. Há momentos que nos levam a decisões que ainda não queríamos
tomar. Aquele filho que vem de um namoro sem sentido, um flerte que passou dos
limites. E o pai apenas não é um pai. Não vai ser.
Muitas vezes, dependendo da idade da “mãe”, essas decisões
são tomadas sem consultar a “mãe”. São separações impostas. Sim, eu sei. Era
para o meu bem, para garantir o meu futuro. E não interessava o que eu queria.
Não interessava a minha decisão. Não interessava que eu já amasse aquele bebê. Porque
a cena (incrivelmente) não era minha.
E aquele bebê, de repente, não era mais nada. Era pranto.
Sim, eu chorei o tempo inteiro. Chorei por horas depois. E aí, acabou... eu
estava vazia. Aquele sonho de bebê não existia mais.
Quem fez isso? Quem cometeu esse assassinato? Eu?... Talvez
tenha sido. Apesar dos protestos, de ter sido levada à força para a clínica
clandestina, de ter dito “meu filho” tantas vezes antes... Talvez a culpa tenha
sido minha.
Muitos e muitos anos mais tarde, uma pessoa importante me
perguntou; “Por que isso ainda te incomoda tanto?” E eu respondi: “Porque sinto
falta dele, de quem ele poderia ter sido...”
Hoje, sou mãe por minha livre vontade. Sou mãe porque
escolhi ser mãe. E minha filha é amada como eu jamais fui! E, incrível, ela
também me ama! Espero ser o suporte que ela vai precisar e o amparo e o carinho
e o ninho sempre aberto, o abraço de cada dia.
Espero ser alguém em quem ela pode confiar, contar coisas,
pedir amor. E eu tenho esse amor para dar, esse mesmo que me foi negado, por
negligência, por incompetência, quem vai saber... Eu tenho esse amor para dar à
minha filha. Eu a amo. Ela me ama. Jamais passarei por cima da vontade dela. É
só isso.
Comentários