Ciúmes

Vi um pequeno lampejo de ciúmes nos olhos dele. Ganhei o dia, o mês, o ano! Medíocre é a mão que alimenta o ego. Essa fagulha insensata de soberba infinita. Mas assim é o existir humano. E eu que sou nada mais do que dimensional... gostei!

Vi aqueles olhos negros saírem da zona de sombra e o sorriso trincar a face sinistra num misto de deboche e cólera. “Quer brincar comigo?”, me dizia aquele sorriso mudo. “Tem certeza?”, os olhos faiscantes ecoavam. “Talvez eu queira.”, respondeu meu ímpeto. Mas, calei meus lábios.

Nada disse que ele já não soubesse. E o que eu disse, as entrelinhas engoliram. Eu tinha feito a Esfinge rosnar! Isso, por si só, já era o bastante! A mente analítica lembrou do Belo ameaçador e o uniu ao relato etéreo, literato. Fez-se a chama que incendiou o espírito tão equilibrado.

Pronto. O que eu via naqueles olhos neutros era tudo, menos apatia. Ele reagia, embora as palavras comedissem. Eu quase via a mente maquinando e a adrenalina a dar choques no plexo. Medo de me perder? Será? Medo de um que me deixe segura? Ciúme de mim? Ciúme do que poderia ter acontecido? Será?

Será que ele não sabe que a beleza da imagem nada é diante da imensidão que ele me representa? Que um mergulho rápido na dimensão do que é belo não fere? Será que ele não sabe que a ameaça é insípida, incolor e inexistente? Ou ele é assim tão meu dono que acha, por acaso, que vai conseguir viver ser mim?!

Sim, eu poderia brincar com ele. Esse tão seguro, tão distante. Apesar de tudo, ele também é humano. E a sombra do pecado ronda a mente sã. Quis melindrar, mas parei. Não arriscaria que uma dúvida insensata banisse esse homem de mim.

E mal sabe ele que o sexo depois foi o melhor de todos. Mal sabe ele que eu sou dele, jamais de outro. Ele não quer saber. Que fique assim, temperando o leito essa quase dúvida infundada. Se, de vez em quando, ele me fitar com aquele fio de lâmina nos olhos, me entregarei à punhalada fatal. Pois é desse jeito que sei que ele é mesmo meu! 

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