Meu Novo Amor
Meu novo amor deve ter cabelos escuros e olhos intensos.
Deve olhar-me como quem contempla uma obra de arte renascentista. Deve ostentar
aquele brilho que só para mim será visível. Deve ver além de mim, de meu corpo,
minha alma.
Não lhe abro mão da boca bem desenhada, de sorriso fácil e
covinhas que a barba esconde. Esse novo amor deve dizer nos lábios sem palavras
a plenitude de seus sentires. E sonhar em suspiros, arfar em ânsias, resfolegar
quereres. Ah, sim, e não menosprezar Caetano.
Meu novo amor não deve ter cor nem credo. Crendices à parte,
devo ser eu sua divindade. A face da deusa em meu próprio rosto e dele a seiva
que gera a si mesmo em deus consorte. Que a lenda do inverno e da colheita se
unam num mesmo sacrifício. Nosso sacrifício, morrendo-nos nos braços um do
outro.
Meu novo amor há de ser sereno, carinhoso e terno. Há de ser
selvagem, vigoroso, eterno. Há de ser, esse meu novo amor, reflexo de Marte e
Mercúrio. Médico dos males de meu espírito, resguardo tumular de meu futuro.
Há de ser o braço forte, musculoso, a amparar minha queda.
Há de ser o peito afetuoso, protetor do meu descanso. E eu hei de deitar a
testa em seu ombro e esquece de fato dos fardos do universo. Eu que serei
noiva, rainha, serva. Eu que serei dele somente e por completo.
Meu novo amor deve ser meu amigo, meu repouso, minha morada.
Deve ter a mente aberta e a racionalidade intacta. Deve ser, acima de tudo, um
homem sensato. Para que meus desvarios e minhas máculas não o contaminem, para
que meus desamores não o desamem. Para que meu passado não o interesse.
Meu novo amor, enfim, deve ser belo e franco, sucinto e melancólico.
Deve ter doeres e ardores. Deve ser meu além e meu agora. E eu devo ser dele a
aurora de uma nova paixão. E, mais do que tudo, meu novo amor deve ser meu
todo, meu meio, minha metade. Deve ser apenas e tão somente meu!
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