O espelho me disse...
Desde tenra idade, costumava (e
costumo ainda) ouvir certa canção de um grupo pra lá de antigo! Música de
força, com eu denomino, música que dá aquela injeção de ânimo, de vigor e de
jovialidade! Música que nos bota lá no alto, nós e nosso ego!
Hoje, porém... agora mesmo... ouvindo
outra vez essa mesma música, a ficha caiu. Compreendi que a letra da bela canção
nada mais é do que a verdade absurda, a realidade salgada, estapeando a minha
cara de trouxa... a música não é de força, é de resignação, de repreensão, de
lástima.
Tantos anos, décadas, escutando
aquelas palavras rimadas, cadenciadas ao ritmo forte, achando que o mundo era
meu. E era exatamente o oposto. Não é de vitórias que a letra fala, não é de
minha habilidade natural de ressurgir das cinzas. A letra fala outra coisa...
A frase mais forte, mais
idolatrada, aquela que mais me representava, diz apenas que não sou diferente,
que não sou melhor, que continuo a mesma pessoa que precisa se refugiar em uma
música para esquecer que a realidade é mesquinha e medíocre.
Ainda sou aquela adolescente
tímida escondida atrás de óculos de aros de plástico preto. Ainda sou a que não
é bela nem fera, a que não é forte. Ou é, mas nem tanto... Ainda sou a menina
feia, a moça sem graça, a mulher anônima. Ainda sou a mesma.
Não, espelho, eu não tinha
compreendido que o não mudar se referia ao que sou de fato, não ao que minha
mente gerou desse “eu mesma” artificial e poderoso. Não havia entendido, até
agora, que quando você me grita que não mudei, é essa sombra que sou, esse
arremedo do que queria ser, que continua imutável.
Agora tudo faz sentido. A vida
que levo não exatamente é aquela que quero. Nem sempre estou com a razão,
afinal. É, espelho, você tinha razão o tempo todo. Não, eu não mudei. Não
mudei...
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