Pacto

Me apaixono por você toda semana. Todo encontro. Uma vez por mês. Tipo isso. Mesmo que você não mereça ou nem ligue. É como uma dependência, uma química. Talvez seja quase um vício. Daquelas coisas que a gente faz e não tem muita explicação. Só faz bem. E nem tão bem, um deleite momentâneo, passageiro, um agrado.

Depois desse tempo todo, já nem sinto a sua falta. Só quando você está perto. E é aí, ao alcance da mão, que o coração lembra de gostar de você acima de qualquer afeto, de qualquer merecimento. É quando a boca tem saudade do beijo, da barba arranhando a pele. Acho que é desejo e só. Mas se fosse só desejo, se explicaria a plenitude que eu sinto ao te ver dormir?

Sim, você já sabe de tudo isso. Tem plena consciência desse meu carinho dependente. E não se importa, eu sei. Não posso exigir mais atenção, não posso querer foto de casal na internet, ou passeios de mãos dadas. Nada tenho de você além de amizade e desejo. E nisso, somos parceiros.

Culpa sua? Você é o insensível? É, até é. Mas eu permito que assim seja, dou minha bênção a você e sua inércia descompromissada. Abençoo minha sorte a cada peça de roupa que você deixa no chão do quarto. E na manhã seguinte, sempre acordo a tempo de ver você dormir.

E é nessa espera pontuada e eterna por uma palavra carinhosa, por um olhar mais profundo, que vou levando nosso existir esparso, enevoado pela distância que sempre leva você de mim. A distância que destoa da proximidade de nossos corpos, de nossas mentes.

Me apaixono por você toda semana, todo encontro, uma vez por mês. Mas esqueço de existir por você assim que a porta se fecha. Estanca a saudade e o querer desenfreado, estanca a memória da tua pele, teu cheiro. Tudo para e amortece até você voltar. E esse é o pacto. Você sempre volta.

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