Retrospectiva
Queria um pouquinho mais de ti.
Queria um pouquinho mais de mim. Queria um pouco mais do mesmo. O tempo de espera
é desperdício de ato, é desperdício de fato, é fatídico. O tempo que espera o
tempo, que espera o beijo, que espera o pouco. Um pouquinho de espera que
espera o que não vem.
Queria a urgência do amor bandido do Cazuza na voz da Cássia Eller. Queria reter o tempo perdido de Renato. Conter o tempo, traçar a tempo a linha que divide o ontem e o agora. O retrospecto que não salva o ponto exato na linha do tempo, que não lembra que a memória deleta sem possibilidade de recuperação.
Queria recordar apenas em linhas felizes, linhas reta, relevantes. Linhas livres de haveres, de espera parada, de inércia mofada. Queria estabelecer o ponto de corte. Cortar o filme, o capítulo, e começar o futuro do ponto exato do beijo que se perdeu no asfalto. Quebrar o tempo velho e renovar o pouco que sobrou.
Quem sabe, assim, reinventando o
novo como se fosse outro passado, reciclando o fato, o ato, o tédio... quem
sabe, assim, o agora se faça pra sempre, se faça a presença que o nunca sempre
foi. Quem sabe, uma boca inesperada faça um novo beijo. Um outro beijo, original,
inesperadamente presente.
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