Despedida

Sinto que é hora de parar, de encerrar um ciclo que me fez feliz por tantos anos, mas que já não reverbera. E quando aquilo que a gente ama para de fazer sentido, é preciso chorar, ruminar a dor da perda e deixar ir.

Baseei minha existência na ânsia da literatura por décadas. Fiz o que pude, fiz coisas de que me orgulho. Mesmo assim, perco meu lugar de fala, minha visão de mundo envelhece e não se renova diante do inevitável desgaste das gerações.

Não vejo mais a sublime expectativa, o sorriso já não me brota ao ponto final de um novo manuscrito. Ao contrário, a tristeza cada vez consome mais minha já parca índole guerreira. Estou cansada demais para continuar. 

Talvez, de todas as mortes em mim, essa seja a mais dolente, a mais sangrada. Afinal, não sei fazer mais nada além de escrita. E se já não faço isso de alma, o render-se é um ato de salvação, não de fraqueza. Não sou mártir, jamais tive essa verve em mim. 

Ainda tenho muito a fazer para me deixar desmanchar por esse epílogo. Minha criança precisa de mim (e eu dela), meu trabalho segue. Os livros dos outros, não os meus. Não sei, por enquanto, o que vai ser. Já parei antes, embora nunca tenha encarado abdicar da coroa com tamanha consciência de realidade. 

Desculpem por isso.

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