Sobre escrever errado

Não encaro numa boa a onda-modinha atual de “deixa disso” em torno da escrita capenga. Não vou condenar alguém que escreve errado em redes sociais, porque são mil variáveis nesse cálculo. Mas, eu vou, sim, berrar quando essa pessoa resolve que é “escritor/a”.

Em “escritor”, vou enquadrar também todos aqueles e aquelas que se comunicam através de palavras ditas/escritas (porque os roteiristas e quadrinistas e blogueiros e youtubers também são comunicadores). Mas, falo particularmente aos contistas, romancistas, resenhistas e etc.

Vamos às analogias (óbvias) que vocês tanto apreciam:
Quando você manda fazer uma roupa em um atelier de costura, você não sai de lá com a roupa toda torta, pontos soltando e botões desencontrados dizendo “Ah, pelo menos a pessoa tá costurando!”. Você não sai feliz e contente, postando estrelinhas, de um restaurante no qual o/a chef queima a comida e troca o sal pelo açúcar. Chega de analogias.

Escrita é uma profissão, gente. Um mínimo de cuidado a criatura que escreve tem que ter com o idioma que escolheu para se manifestar. Sim, às vezes, encontramos histórias ótimas, bem contadas, que instigam. Custa a mão que segura a pena ter um pouco de respeito pela escrita? É, respeito! Porque esse descaso crescente – e mais ainda esse paninho quente por cima – nada mais é que o emburrecimento seletivo que muitos tanto condenam na sociedade atual.

A cada momento em que o leitor deixa de lado o erro do escritor, ele apenas atesta seu desprezo pela linguagem. Então, que se queimem as gramáticas, rasguem-se os dicionários e explodam a ABNT. Não existe mais língua portuguesa! E a pergunta é: se tudo se aprimora, por que a escrita se degrada desse jeito?

Todo mundo erra, é claro! Até os experts erram. Mas, é um erro de vez em quando, não 35 por parágrafo... Não é questão de “eu sou melhor que você porque eu sei fazer isso”. Todos deveriam fazer isso “antes” de jogar na Amazon! Não precisa ser especialista, basta mais cuidado, mais amor para com o texto. Você deixa seu filho sair todo sujo de casa, com as roupas pela metade? E por que deixa seu livro ir ao mundo assim todo errado?

Quando revogaram a regulamentação de jornalista (qualquer um sem formação podia exercer a profissão), houve um levante dos profissionais pela manutenção da excelência, pela preservação (pelo menos, dos manuais) de estilo. Isso, no mercado literário brasileiro, está acontecendo ao contrário. Cada vez mais se aplaude o que é ruim, errado e malfeito. Eleva-se o tosco em detrimento, não do rebuscado, mas do apenas correto.

O discurso de “não me importo de ler um livro com erros”, por si só, destrói a essência da escrita, que é (deveria ser) entregar conhecimento, seja qual for. O que se entrega com um livro cheio de erros é o contrário disso. E cada vez que um leitor e (pior) um escritor defendem a escrita “de qualquer jeito”, esses confirmam que a competência literária é desnecessária, que a própria literatura é obsoleta e obtusa como forma de arte e expressão.

“Ah, mas não se pode tirar da pessoa o direito de escrever!” Não, não pode e nem deve! O que se pode fazer é aprender a escrever direito. Não consegue? Contrata um revisor (eles existem para isso!). Não pode pagar? Procura aquele amigo que sabe mais e pede para ler seu livro. Dê o manuscrito a alguém (várias pessoas) que possam ajudar. Encontre um corretor ortográfico gratuito (deve existir isso, eu acho), já melhora muito o produto final.

Sou pedante e preconceituosa? Posso até ser. Meu papel é o de defender a profissão que exerço. Meu desejo é o de, como leitora, ter direito a ler uma história bem escrita. Como escritora, meu dever é lutar para que a arte que me foi concedido praticar não se perca de vez em uma época em que o desmonte cultural vem a galope e atropela até Machado de Assis e Kafka... Era isso.

Comentários

Anônimo disse…
Exposição artística
Eu vendo minha arte
Destas mais espontâneas
Destas que tem vida

Eu vendo minhas telas
De rubra tinta às faço
Vendo minhas canções
De horríveis gritos toco
Eu vendo esculturas
De carne às modelo

Eu já vendi de tudo
Eu já vendi a vida
Já implorei que comprem
Aceitem minha arte!
Vejam que belo o sangue
Desenhem nesta carne

Ouçam tão doces gritos
Apreciem a arte
De um corpo sem vida
Vejam toda beleza
Das artes corrompidas!

Reze ao nosso Deus, Morte!
Condene tua pureza
Nunca ninguém lhe disse?
No inferno há beleza.

Beleza verdadeira
Da pura humanidade
Não a ingênua e doce!
Sim a atrocidade.

A que os humanos clamam
Por toda sua vida
Aquela que escondem
Impura, descabida!

É isto que tu queres?
Isto lhe da prazer?
Amor não mais comove?
A arte venha ver!

Venha ouvir canções
Das mais desesperadas
Venha ouvir os gritos
Da gente condenada
Venha ouvir sonatas
Duma alma quebrada

Venha ver minhas telas
Pinceladas de rubro
Venha apreciar
O grande horror do mundo!

Veja telas sombrias
Da humana baixeza
E torne-se mais baixo!
Nelas veja pureza

Perceba quão cálida
A palidez da morte
Sinta ao ver cinzento
A emoção mais forte

Então venha!
Meu irmão, meu amigo
Então pinte
Meus belos quadros comigo

Porque não esculpir?
De arte gostas tanto!
Causas a morte humana
E nela vês encanto!

Então me acompanhe
À sala mais ao lado
Peço, não tenhas medo.
Tu és meu convidado

Veja a coleção
De toda minha arte
Queres ver o horrível?
Aqui, em qualquer parte.

Aqui esculpi corpos
Eu aqui moldei almas
Aqui causei-lhes dor
Eu lhes roubei a calma

Seus sonhos? Pesadelos.
Seus nomes? Esquecidos.
Nem eu compreendo aqueles
Em horror esculpidos

Pois amas minha arte?
Fiz bem em lha vender!
Pois que queres saindo?
Algo mais tem de ver!

Aqui eis toda a arte!
Aqui tu vais jazer.

Eu ouvirei teus gritos
Serás meu instrumento
Farei teu sangue tela
Teu corpo um monumento

Em tua alma já
Não sei o que farei
Talvez pinte de morte
Posso esculpir em dor
Mas má está tua sorte
Seja lá o que for

Tu compras minha arte?
Hoje és minha musa
Hoje és minha tela
Tu és meu coração!

Tua alma, teu corpo
Hoje inspirar-me-ão.

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